quarta-feira, 30 de março de 2011

Solidariedade é uma função constante

110 dias.

110 dias das experiências que vivi e que nenhum plano que eu tinha na minha infância podia imaginar.

Eu não imaginava nunca que iria fazer um intercâmbio em Bangladesh nem na Indonésia; que iria ao Vietnã e à Índia. E ainda assim, eu vivi tudo isso. Por que?

Tudo começa numa salinha de entrevistas em 2008, abril, que me fez entrar na AIESEC, mas a razão está presente há muito mais tempo. É um sentimento que brota no teu peito de você olhar pra trás e perceber que tudo se encaixou do melhor modo... e hoje olhando pra trás, como minhas esta experiência de intercâmbio me modificou?

Primeiro Bangladesh. Uma oportunidade única de trabalhar com o Grameen Bank, descobrindo uma das organizações mais pioneiras e revolucionárias do pragmático sistema capitalista, voltada para ajudar os pobres. Négocio social ainda é um óasis no deserto, mas vem crescendo com muita força e pode ser fundamental para a ascenção social nos próximos anos. E o banco vencedor do prêmio nobel da paz em 2006 não deixa de servir de inspiração pros próximos empreendedores do ramo.

Para mim não foi diferente. Cresci demais aprendendo a viver num país muçulmano, costumes extremamente diferentes, e que me fizeram valorizar mais cada aspecto cultural. Por exemplo, tinha dias em que simplesmente me vestia como um bengali e ia caminhar pela cidade. Para sentir o intercâmbio, para observar, e para respirar a experiência. Pra mim que já tinha feito um intercâmbio anteriormente, a diferença desta vez foi assustadora; mas assustadora porque excedeu minhas expectativas de aprendizado.

Exemplos: a disciplina dos muçulmanos em relação a seus rituais; o modo como as relações sociais afetam os objetivos da sociedade a longo prazo, como por exemplo na pressão familiar por casamento; até a ausência de alcóol em locais públicos é uma coisa que diferencia o local. Além disso, Bangladesh é o país com a maior densidade demográfica do mundo, e vive situações complicadas em relação ao governo, que inclusive levaram à expulsão de Muhammad Yunus do cargo de Chairman do Grameen Bank (voltarei nisso mais tarde). Portanto, um país muito necessitado, mas cheio de potencial humano pra crescer e com algumas práticas em microcrédito de dar inveja às grandes instituições financeiras.

Bangladesh foi também quando vivi num flat com mais de 20 pessoas de diferentes nacionalidades. Convivendo com eles, discutindo sobre o futuro de nossos países, tentando extrair o máximo de conteúdo relevante das nossas conversas, coisa que não fiz muito no meu primeiro intercâmbio; o perfil das pessoas interessadas também me ajudou bastante, porque todos estavam muito afim de trabalhar e aprender com o Grameen Bank. Então, foi um tempo de grandes amizades.

Foi também em Bangladesh que vivi isolado numa vila para estudar os que tomaram empréstimos do Grameen Bank; e onde me apliquei para a diretoria da AIESEC no Brasil e perdi (volto nisso mais tarde).

Cheguei então para meu segundo intercâmbio na Indonésia, um país que me surpreendeu desde o primeiro momento por sua alegria e pessoas muito cativantes. E eu fui cativado.

Trabalhava com um autor de best-sellers na Indonésia sobre liderança e descobri o quanto é apaixonante ajudar as pessoas fazendo o que gosta. Ajudando-as em projetos, fazendo-as descobrir e pensar fora da caixa em relação a empreendedorismo.

A vida em Bandung era muito, mas muito boa; uma das melhores cidades da Indonésia, um ótimo clima, ótimas pessoas, e a oportunidade de viver com uma família muçulmana dia após dia, tendo duas "irmãs", um "pai"e uma "mãe" indonésios. Um trabalho excepcional que me deu forças pra muito tempo da minha vida, observando como as pessoas são felizes aqui.

Uma coisa que levo da Indonésia é que, mesmo quando eles tem dificuldades financeiras, é difícil você ver um mendigo na rua. Provavelmente, você vai parar teu carro e virá alguém tocando violão pra você, tocando violino, fazendo mágicas. Eles não pedem o dinheiro, mas sim fazem algo para merecê-lo. E pelo que percebi, as pessoas se sentem mais inclinadas a dar dinheiro nesta possibilidade. E complementou o que tinha visto em Bangladesh: as possibilidades de ascenção social se iniciam sobre os esforços dos próprios necessitados, mas sem as oportunidades e o suporte necessário, estas pessoas se tornam reféns de um sistema maligno que ignora-as por mais que se esforcem.

E daí vem na minha opinião o maior aprendizado do meu intercâmbio. Todo mundo precisa de uma oportunidade. Eu tive muitas. Eu pude estudar num colégio particular, eu pude ir pra uma faculdade federal, terminar meu curso, fazer intercâmbios... mas se você não retribui estas oportunidades pra sociedade, você realimenta um sistema em que algumas pessoas nunca receberão oportunidades como esta. É como uma função em matemática: se você ganha mais oportunidades, deve também retribuir de acordo.

No meu intercâmbio, eu descobri os verdadeiros heróis da humanidade. Não aqueles que tem um uniforme com cueca por cima da roupa, que voam e lutam contra monstros gigantes. Mas aqueles que sofrem, erram, choram, tem medo, como nós; mas que a grandeza do que eles atingiram é tão absurda que nós efetivamente nos perguntamos se estas pessoas são somente seres humanos. A dúvida, a possibilidade de cogitar o absurdo, cria um incômodo em nós; eles vão mais longe, mas continuam vivendo as emoções humanas de derrota e problemas como cada um. E este incômodo nos leva a questionar nosso verdadeiro potencial: será que eu não posso ir mais longe? Qual a diferença entre eu e estas pessoas? Como eu faço para chegar mais longe?

E é isso que me moveu aqui. Eu conheci pessoas assim como Yunus e meu chefe, e vi que eles chegaram longe... e talvez eu não estivesse realmente sabendo qual o meu limite.

E aí, veio o segundo processo de eleição. Eu me esforcei como nunca, e vi mais claramente o tamanho do que eu gostaria de fazer, e independente do resultado, eu sabia que havia me esforçado como nunca. E assim o farei daqui pra frente nos próximos desafios... É como se meu coração batesse mais forte agora, revigorado pelos exemplos e ensinamentos que tive de culturas.

Na última parte da minha viagem tive o maior exemplo disto. Fui ao Vietnã no congresso da AIESEC na Ásia Pacífico (APXLDS). Quando você via as pessoas do Afeganistão e do Japão se esforçando pra mudar seus países, pra superar as dificuldades... eu ficava me perguntando de onde eles tiram força, e mais ainda que isso, afirmando pra mim mesmo que não ia tirar o pé do freio pra retribuir isso de jeito nenhum.

Não foi fácil pra estas pessoas, não é fácil pra você, nem pra mim. É tudo uma questão de transformar tuas oportunidades em algo relevante pra quem investiu em você.

Que venham os 2 dias de viagem. Que venha esta nova fase da minha vida. E fica o meu muito obrigado por todo mundo que participou desta experiência, que me deixou extremamente apaixonado por viver.

:)


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Mais um ano de vida!

Sempre que chega meu aniversário ou algo do tipo, tem gente que me fala que sou muito chato, que tenho uns pontos de vista muito loucos, que sou enjoado. É porque eu arrumei uma cisma com aniversário.

Muita gente vê e espera nos aniversários comemorar com felicidade, sorriso no rosto, sair, sei lá, ter um bom tempo. Para mim, o dia do seu aniversário é mais um simbolismo.

É a hora que você para pra refletir sobre tudo que aconteceu sobre um período pré-estabelecido de tempo (no caso, 365 dias). Ninguém pôs nos dez mandamentos da física comemorar aniversário, nem que 365 dias era o tempo em que você deveria receber presentes e parabéns. É um simbolismo. Um simbolismo que muita gente, a meu ver, não compreende, e passa sem perceber o que está acontecendo ao redor.

Eu me lembro de ter conversado com alguém sobre comunidades alternativas. Em algumas, elas não comemoram aniversário; comemoram sim, conquistas. Por exemplo: É muito mais valioso para uma criança receber uma festa depois do primeiro dia que ela dormiu sem chupeta, ou que foi para a aula e não chorou, do que uma festa por ano num dia pré estabelecido; para algumas pessoas, é muito mais valioso o dia em que você esquece o número de celular da sua ex-namorada, ou que você vai dormir sem chorar a perda de alguém querido. Significa que as feridas estão cicatrizando, que você está vencendo etapas e desafios, que está mudando. E o tempo é relativo pra cada um, o bem mais precioso que alguém pode ter; ele não volta mais, mas cada momento é eternizado pela memória de cada um. E isso é o que o faz tão esguio; ele está ali, mas quando você vê já passou. Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...

Já passei aniversários que não lembro, mas dias memoráveis em que levantei achando que seria mais um qualquer na minha vida e que tive 15 minutos que mudaram o curso de muita coisa. 15 minutos em que você recebe a notícia que vai ter um sobrinho, 15 minutos do lado de fora da sala de espera do hospital ouvindo sobre a morte do seu pai, 15 minutos em que você tem a última conversa com seu irmão antes de embarcar para 4 meses de viagem.

Por que estou falando isso tudo? Porque este é o dia oficial da minha reflexão. Eu estou comemorando mais um ano de vida ou menos um ano de vida? O que eu fiz de relevante durante estes 365 dias? O que eu vivi? O que eu não vou esquecer o resto da minha vida?

Este ano, acabaram-se vários ciclos marcantes da minha vida. Terminei minha faculdade. Aqueles quatro anos, que não sabia como iam terminar, a tensão de conseguir o emprego depois de formado, as saudades de quem conviveu contigo estes anos... para mim, esta (primeira?) faculdade terminou.

Acabou também meu ciclo na AIESEC em Juiz de Fora, no ano em que assumi a presidência da organização e também foi de grande valia para minha educação e formação como ser humano. E me deu a oportunidade de conhecer pessoas brilhantes.

Foi um ano em que viajei para o Peru, Índia, Grécia, Turquia, terminando em Bangladesh, a experiência mais desafiadora da minha vida. Foi provavelmente o ano em que mais chorei na minha vida.

Chorei de tristeza. Chorei a ausência do meu pai por mais um ano, chorei derrotas, chorei de saudades de quem amo, chorei pela impossibilidade de ajudar quem estava do meu lado, de ver pessoas sem oportunidade, de ver o quão pouco eu tenho feito aos mais necessitados.

Mas chorei de alegria. De ver meus amados crescendo, conquistando novos desafios, de receber um novo sobrinho, de ter minha família, amigos e namorada do lado, de ver novas possibilidades de ajudar quem precisa, de ter as oportunidades que tive e a gratidão que tenho de retribuir isso de alguma forma para a sociedade.

Este ano, eu comemoro mais um ano de vida. Foi provavelmente o ano que mais vivi na minha vida. Provavelmente o mais envolvente, o mais memorável, o período de 365 dias que gostaria de repetir a intensidade para sempre.

Na minha primeira hora desde vigésimo segundo ano, fomos a um acampamento com meu chefe e 50 alunos. Fizemos uma excursão noturna aos campos de chá. Você ficava com os olhos vendados, no meio da mais pura escuridão, sozinho, apoiando sua mão numa corda que guiava o caminho.

Foi provavelmente a sensação mais rejuvenescedora da minha vida. Não ter nada ao seu redor, na completa escuridão. E foi ali que eu percebi o que eu quero este ano. Pensei em cada momento que vivi nestes últimos dias. E vi que, aconteça o que acontecer, não vou esquecer esta sensação. A sensação de andar no escuro, no meio do nada, sem rumo, mas aproveitando cada momento desta caminhada. Porque quando você menos esperar, você já está voltando pra luz e aquele momento já passou. Aquela degustação da vida já se evaporou pelos seus dedos. E é assim que eu pretendo viver cada segundo.

Agradeço a Deus por mais um ano de vida. Principalmente por ter colocado duas pessoas tão únicas e boas como meus pais que tenho o privilégio de conviver e aprender. E espero que no próximo ano tenha mais coisa pra contar.

"I have been impressed with the urgency of doing. Knowing is not enough; we must apply. Being willing is not enough; we must do."

Leonardo da Vinci

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Conspiração universal pelo bem


Sim, existe uma conspiração universal pelo bem. É só a gente olhar com mais atenção ao nosso redor. E no caso a seguir, eu não tava preparado pra escutar tudo isso. Mas acho que estes são 15 minutos que marcam sua vida, e que vem da simplicidade mais sincera de uma conversa de bar.

A seguinte conversa aconteceu hoje, após um programa de rádio em que falamos durante uma hora sobre inspirar negócios na Indonésia. Falamos sobre a realidade do Brasil, dei meu ponto de vista e dividi com meu chefe o programa. A audiência foi de mais de 3000 pessoas. E depois ele foi me deixar em casa.


Léo: E aí chefe, tudo bom?

Victor: Tudo ótimo! E você?

Léo: Bão tamém! Então, o que você estudou?

Victor: Engenharia de software!

Léo: Ah, que bom! Você programa em que linguagens?

Victor: Ah, algumas... mais de 20.

Léo: Ah tá... e o que você faz no seu trabalho?

Victor: Eu iniciei minha própria empresa de software. Hoje, eu só coordeno, vou lá algumas vezes na semana. Meu foco tem sido outro.

Léo: Hmm... e qual tem sido?

Victor: Coordenar a escola que criei ano passado. É a primeira vez que recebemos estrangeiros como você pra dar aula, e também estamos expandindo.

Léo: E como você resolveu criar esta escola?

Victor: Eu tenho muito dinheiro hoje, uma ótima família, posso sair de férias 2 vezes por ano pra viajar, pude realizar meus sonhos. Mas eu queria dar a oportunidade pra outras pessoas. Se eu soubesse antes o que sei agora, se eu pudesse dividir este conhecimento com alguém, eu sinto que poderia inspirar outras pessoas a fazer o mesmo.


Léo: E quando você começou??

Victor: Há um ano atrás. São 3 níveis: 0, para conhecimento básico sobre empreendedorismo e inspiração para seu negócio. Temos mais ou menos 500 pessoas nesta fase, mas somente 60 ou 70 geralmente passam à próxima fase. Avaliamos o desempenho das pessoas em dois projetos, o caráter e integridade demonstrados baseado em feedback dos colegas e um quiz em que eles devem ter um aproveitamento maior que 75%. Em seguida, realizamos um final de semana de acampamento da escola, que por sinal vai ser agora dia 26 de fevereiro. No nível 1, partimos para mais conhecimento específico. Nível 2, todo o aparato técnico para a formação de empreendedores em cada área.

Léo: Quantos alunos são hoje?

Victor: Mais ou menos 800, mas no futuro devemos ficar apenas com metade. Neste último ano, tivemos mais de 1000 pessoas que saíram da escola.

Léo: Por que?

Victor: Seleção. Todo o trabalho que fazemos é voluntário, e precisamos de pessoas realmente afim de ajudar a escola e com o perfil empreendedor. Só continua no programa quem nós realmente acreditamos.

Léo: Peraí... eles não pagam nada pelo ensino?

Victor: Não. O que pedimos em troca é que os formandos do nível 2 retornem à escola para servirem como mentores durante um tempo, se possível, e que inspirem outras pessoas a continuarem o ciclo de empreendedores.

Léo: Mas se eles não pagam a fee, quem é que mantém a escola?

Victor: Eu e outros ex-alunos. Não temos staff, todos trabalham como voluntários; não temos professores, são todos mentores. Não é um ensino de mão única; queremos que nossos alunos nos ensinem também. Que possamos sentar numa roda e uns ajudando os outros, formando cooperativas, aproximando-os de realizar seus sonhos profissionais e de vida.

Léo: E quais atividades vocês promovem para preparar os empreendedores?

Victor: Temos empresas que se interessam em bancar alguns projetos. Sociedades daqui já se tornaram grandes. Temos seminários internacionais, campings, avaliações. Mas o mais importante é que consigamos aliar os resultados com alegria. Eu sou um homem feliz com minha vida, e parte disso vem do fato de gostar do que eu faço. Se você tem um propósito, se tem criatividade e ambição, por que você não se torna o próprio chefe? Eu busquei expandir meu negócio e acreditava na minha habilidade. Espero que com meu trabalho na USB Business School consiga dividir isto com outras pessoas.

Léo: Obrigado pela carona chefe! Meus parabéns pela iniciativa! É um prazer trabalhar contigo na USB!

Victor: Ok! Já te dei meu livro?

Léo: Não...

(Pega o livro no porta-malas, uma foto dele, com a estampa "best seller", 250.000 cópias vendidas, e o número oito na capa).



Victor: Aqui está!

Léo: Que ótimo! Sobre o que é?

Victor: Através da minha história, eu escrevi um pouco do que aprendi. E vi que existem 8 passos para atingir seus sonhos. São:

1. Do Not be Afraid to dream of becoming wealthy despite any difficult situation you are today.

2. The principle of working hard or nothing-2 in life.

3. Diligent saving for capital to do business / invest.

4. Save money, live in simplicity and delay the pleasure.

5. Never give up, because every obstacle in life will raise you to a better condition (no gold behind the stone)

6. Carefully select the investment / business (think long).

7. Always want to give the best service for the consumer / client.

8. Be a Loyal friend, help your friends when experiencing difficulties, because they will be there for you later.

Léo: E quem são estes depoimentos aqui atrás

Victor: É o presidente da Indonésia falando do livro.

Léo: Hmmm tá... Obrigado chefe! Nos vemos sábado no camping!

Victor: Tchau!

A USB Business School começou em 2008. Para saber mais, acesse www.usbschool.blogspot.com . Tá em bahasa, mas o google translator dá uma ajudinha pra quem quiser ler algo. O lema da escola é "the school of life".

Esta viagem está me ensinando muito mais do que eu acreditava. E, pelo jeito, estou aprendendo com as pessoas certas!

Fiquei muito emocionado conversando com meu chefe hoje. É estranho ver tudo que você acredita refletido em pessoas ali, na sua frente, há milhões de quilômetros de distância, educando, desenvolvendo e capacitando líderes para um futuro melhor.

O importante de qualquer viagem não é o que você lembra de colocar na bagagem de ida, mas sim o que você não esquece na viagem de volta!

:)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Eu preciso de óculos

Eu acordo às 9 da manhã, em pleno domingo, para ir trabalhar.

Eu não tenho chuveiro quente em casa; aqui em casa, as opções são um banho frio ou um quente de caneca.

Eu moro com 20 pessoas divididas em 2 flats.

Eu vou para o trabalho em um tuk tuk apertado com mais 3 pessoas.

Bangladesh é o país com a maior densidade demográfica do mundo. Todas as vezes que saímos na rua, somos cercados de curiosos, pessoas que vem falar conosco.

A internet em casa é muito ruim. Não consigo falar pelo skype com minha família.

É isso que eu consigo ver. Mas... será que eu não preciso de óculos?

Eu acordo todos os dias às 9 da manhã. Meu roomate é de El Salvador, antes era da Índia. Conversamos, subo para tomar café, e me preparo para mais um dia trabalhando no Grameen. Chego todos os dias no trabalho e me sento para pesquisar, ter reuniões, saber tudo que eu quero saber sobre negócios sociais e microcrédito. Sem a menor cerimônia, é só chegar e perguntar, pesquisar, acessar os arquivos de plano de negócios, metas, orçamento. E tudo que dou em troca é minha opinião.

Minha análise do Grameen, pontos para atenção, como se fosse uma consultoria. E uma instituição que ganhou o Nobel da paz abrir suas portas para estudantes, escancarar suas qualidades e defeitos e tirar algum tempo para nos escutar... eu valorizo demais. Mesmo que seja no domingo de manhã, já que o final de semana em Bangladesh é sexta e sábado, vale a pena acordar.

Eu não tenho chuveiro quente em casa; aqui em casa, as opções são um banho frio ou um quente de caneca. Isso me fez perceber o quanto eu abuso do consumo de água em casa, me fez valorizar aquela gotinha de água quente que cai do céu, e me fez ter mais paciência até nas questões triviais, que muitas vezes não paramos para pensar. O banheiro é de estilo hindu, com um buraco no chão. O primeiro choque é grande. Se é melhor ou pior: cada um com suas conclusões. Eu acho simplesmente diferente. E cada dia aqui é feito de pequenas conquistas. Ir ao supermercado, tomar um ônibus, ir a uma mesquita. A rotina é plena de oportunidades e quebras de paradigma; meu hobbie é andar como um bangladeshi pelas ruas e observar o estilo de vida destas pessoas, que tanto tem a ensinar e aprender conosco.

Por exemplo, o vício por bebida é quase nulo; a maior parte da população se esforça para adotar os hábitos vegetarianos; o índice de criminalidade é baixo se comparado à alguns locais do meu próprio país; o uso de drogas é severamente punido.

Eu moro com 20 pessoas divididas em 2 flats. São onze nacionalidades diferentes: Holanda, EUA, China, Taiwan, El Salvador, Brasil, Japão, Coréia do Sul, Austrália, Alemanha e Itália. Todos os dias, eu tenho a oportunidade de trocar ideias com estas pessoas sobre os mais diferentes temas: a ascenção da China, questões políticas (como a relação Taiwan e China, as Coréias). Tudo isso a distância de um braço, o suficiente para cutucar o cara do lado e perguntar. Se é muita gente? Sim. Quase nunca estou sozinho. Mas pra um intercâmbio cultural, não existe nada melhor do que a certeza de interação com pessoas extremamente diferentes.

Eu vou para o trabalho em um tuk tuk apertado com mais 3 pessoas. Aprendi a falar o básico de bengali, e alguns falam inglês; negociamos, conversamos, tiramos fotos; vemos muitos sorrisos dos motoristas. Nos apertamos no tuk tuk, mas toda manhã enfrentamos a dura realidade que muitas teorias de sala de aula não conseguem responder. Este foi o mote da criação do Grameen Bank, aliás. O fundador, Muhamad Yunus, estava como professor da faculdade de Economia, quando olhou para a janela e viu gente pedindo esmola. Num país recentemente criado (1978 sua independência), ele percebeu o quanto suas teorias viviam longe daquela realidade, ou como poderiam ser melhor utilizadas para combater os graves problemas de pobreza.

Se levantou, então, e criou uma abordagem prática: uma visita de campo a Jobra, perto de Chittagong, sua cidade natal, e emprestou do próprio bolso 27 dólares para um grupo de camponeses. Se dava início o Grameen Bank, que partia do seguinte princípio: "Poverty is the absence of all human rights. The frustrations, hostility and anger generated by abject poverty cannot sustain peace in any society. For building stable peace we must find ways to provide opportunities for people to live decent lives".

Bangladesh é o país com a maior densidade demográfica do mundo. Todas as vezes que saímos na rua, somos cercados de curiosos, pessoas que vem falar conosco. E isso é fantástico: nunca havia visitado um lugar que preserva um grande ar de inocência sobre os turistas. Na maioria das vezes, quando você não é local, você pode enfrentar problemas de gente querendo tirar vantagem de você (pagar mais, etc) ou gente tão acostumada a turistas que simplesmente te ignoram.

Em Bangladesh, as pessoas querem tirar fotos com você, conversar, e sempre estão com um sorriso na cara prontas a te ajudar. Não vou falar que existe gente mal intencionada não, mas sempre que estes mundos batem de frente, o número de pessoas bem intencionadas é bem maior do que quem não quer te ajudar.

Esta onda de vibrações é contagiante e torna um país que não é rota comum de turismo especial à sua maneira. E ver um bangladeshi todo feliz mostrando com orgulho o lugar onde se constroem os navios, ou andando numa mini canoa, pra mim tem muito mais valor.

A internet em casa é muito ruim. Não consigo falar pelo skype com minha família. Me fez perceber o quanto o meu tempo é importante. Nos minutos que tenho de boa conexão, é a hora que tenho para conversar e ser o mais relevante possível no que falar; trocar ideias, responder emails, tudo passa num segundo; e me mostra o quão patética era a minha atitude de ter minha mãe do lado e continuar no msn, conversando.

Muitas vezes as respostas mais simples estão na nossa frente, mas o nosso cérebro não consegue processar tamanha a indiferença com que tratamos os fatos.

Conversando com o cara do lado, descobri coisas fantásticas; é como a macieira e Isaac Newton. Às vezes, nas coisas mais simples estão as respostas mais complexas. Estavamos conversando aqui sobre um vencedor do prêmio Mário Covas, e a visão que me disseram era bem simples: "Fui a um bebedouro de uma escola pública, e percebi o desperdício de água. Resolvi diminui-lo".

Não se sabe o que é verdade, o que é lenda na história, mas no fim das contas faz sentido. Bill Gates também falava simplesmente que "Eu tive uma ideia. Começar a primeira empresa de software do mundo".

Complementando o post anterior, às vezes a gente ajusta o nosso foco pra ver tão longe que acaba não percebendo o que está na sua frente.

É. Eu preciso de óculos.

"Se eu puder ser útil a outro ser humano, mesmo que por um dia, já seria grande coisa. Seria melhor que todos os grandes pensamentos que eu poderia ter na universidade"

Muhamad Yunus

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O simples gosto pela vida

E lá se vai mais de um mês.

Chegar aqui em Bangladesh não foi fácil. Me tomou dez dias. Londres, Doha, Nova Déli (merece um post a parte), Calcutá, Dhaka. Foi avião, trem, ônibus, problemas com visto, fronteiras. Mas o que importa é que tudo deu certo e comecei a trabalhar no Grameen Bank.

Mas o que eu quero falar agora é bem pessoal. É o que aconteceu comigo nestas 3 semanas de intercâmbio em mudanças internas.

O trabalho do Grameen Bank foi um susto para mim. Obviamente, tinha lido os livros, aprendido superficialmente sobre microcrédito. Mas ver tudo funcionando, visitar comunidades e pessoas que efetivamente tiveram suas vidas mudadas foi algo além do que eu esperava.

Um pouco de wikipedia para explicar o Grameen Bank:

O Grameen Bank é o primeiro banco do mundo especializado em microcrédito e foi concebido pelo professor bengalês Muhammad Yunus em 1976, visando erradicar a pobreza no mundo. Opera como uma empresa privada auto-sustentável e gerou lucros em quase todas os anos de sua operação, exceto no ano de sua fundação e em 1991 e 1992.

Adquiriu formalmente o status de Banco em 1983, através de uma lei especial promulgada para sua criação.

O Grameen Bank ganhou o Nobel da Paz do ano de 2006 juntamente com seu fundador.

Localizado em Bangladesh, já conta com 2.185 agências e, desde sua fundação, emprestou o equivalente a 5,72 bilhões de dólares para 6,61 milhões de mutuários, 97% dos quais são mulheres. Atende a 71.371 vilarejos e possui um quadro de 18.795 funcionários remunerados. Sua taxa de inadimplência é baixíssima, de fazer inveja aos mais bem administrados Bancos comerciais do mundo: apenas 1,15%, o que significa que o Grameen Bank recebe de volta 98,85% dos empréstimos que concede.

Atualmente existem mais de 2 dúzias de entidades que trabalham juntamente com o banco, dentre as quais se destaca a Grameen Foundation , com sede em Washington.


Meus desafios aqui são:

- Entender como funciona a estrutura do Grameen Bank para garantir que o sistema funcione sustentavelmente
- Como o sistema se protege de corrupção e outros problemas comuns
- Como se garante a sustentabilidade de liderança no projeto
- Como o banco pioneiro em negócios sociais trata o tema

O que mudou em mim nestas 3 semanas?
Eu aprendi nestas o poder que uma oportunidade pode dar a alguém.
Vi pessoas que não tinham nada, que perderam o marido, não tinham o que fazer, mas que através do microcrédito conseguiram melhores condições para sua família; vi gente que morava no que hoje é um estábulo para três vacas; vi gente que não terminou a primeira série dizer com orgulho que um filho estava no exterior, o outro terminando a faculdade e iria dar a festa de casamento do terceiro. Tudo isso porque pessoas precisavam de oportunidade.

Vivemos num sistema de garantias dos bancos. Eles obrigam que você mostre sua condição financeira, seus rendimentos, que alguém assine por você. Aí sim você se torna confiável para crédito. No Grameen Bank, as operações acontecem na própria comunidade. As referências são seus vizinhos, a chefe da sua vila, seus amigos que moram próximos na vila. E como se consegue uma taxa de inadimplência menor no Grameen Bank?

Explicarei melhor o sistema em outro post, mas a verdade é que o trabalho é um tapa na cara de quem não acredita em projetos sociais. Em real mudança. Ela existe, é palpável, e é atingível.

Eu percebi então que a minha própria existência poderia ser pautada para ideais mais nobres. Poderia expandir meus sonhos, minhas ideias, para que pudesse ajudar mais gente ainda. E ter isso como um objetivo vivo na minha carreira. Não somente como algo complementar, mas como algo que estivesse na essência do que eu faço, como estas pessoas aqui se conectam.

É muito fácil se motivar num trabalho onde você vê seu impacto acontecendo. É muito bom você ver que o seu esforço de trabalho serve para prover as coisas simples da vida, o que de fato traz felicidade.

Numa visita a uma vila, enquanto eu andava, milhões de crianças nos seguiam. Conversávamos em bengali, jogamos badminton, brincamos. Na hora de ir embora, um dos garotos correu até um campo afastado de plantações, que na área rural se expandem até onde não podemos mais ver. Enquanto eu caminhava até a van, ele me estendeu a mão.

Dentro dela, uma pequena cenoura. Arrancada às pressas. Ele simplesmente apontou para os campos, me entregou e me abraçou. Como alguém no meio da área rural de Bangladesh, sem me falar uma palavra, numa área carente, pode ter a sensibilidade de correr até o mais longíquo campo pra me dar meia cenoura e um abraço?

Pessoas assim precisam de oportunidade. O fundador do Grameen Bank e também ganhador do Nobel da Paz Muhamad Yunus diz que: Definitivamente não é a falta de habilidades que torna pobres as pessoas pobres. O Grameen Bank acredita que a pobreza não é criada pelos pobres, ela é criada pelas instituições e políticas que o cercam. Para eliminar a pobreza, tudo o que temos de fazer é implementar as mudanças apropriadas nas instituições e políticas, e/ou criar novas instituições e políticas.

Situações como esta me fizeram refletir se eu realmente estava pensando grande. Se ao ver tanta coisa mudar na minha frente, por obra e dedicação de tantas vidas que buscaram mudar esta percepção, esta não era a minha vez.

Acabei de assistir into the wild. Na minha cabeça, fica mais claro a cada dia que o gosto da vida está nas coisas mais simples. A vida em Bangladesh é feita de pequenas conquistas e trocas de experiências que tornam a minha própria vivência cada dia mais relevante. É uma nova palavra em bengali, uma conversa sobre política num flat com mais de 10 nacionalidades, uma reflexão ou uma troca de experiências de vida que o faça refletir.

Conheci um sul coreano aqui. Ele passou os últimos 2 anos viajando. Trabalhou de voluntariado no Quênia, no Reino Unido, na França, Bangladesh e vai agora para a Malásia. E vi muita gente se empenhando também em desenvolvimento de negócios sociais. Foi na verdade acendar a luz na minha cabeça para deixar ideias de lado e efetivamente trabalhá-las!

Pra mim, Bangladesh foi um sopro de força. Não de otimismo, não de esperança; mas sim de amadurecer, ver que tudo não funcionará apenas na base da boa vontade, e dar forma aos sonhos que tenho. Bangladesh não foi apenas uma escolha; é um ponto intrínseco da minha caminhada de vida. E provavelmente, o que mais me fez amadurecer desde que perdi meu pai.

Espero que vocês não se desapontem com o primeiro post daqui ser tão tarde, e tão pessoal. Nós estamos nos organizando aqui em Bangladesh para que todos os trainees dêem sua contribuição em conjunto quanto a tudo que estamos aprendendo sobre o sistema e vamos dividir em breve. Quando tiver uma conexão melhor vou postar fotos pra ilustrar :) .

Espero que depois deste post você também se sinta revigorado pra agir em busca de uma meta. Porque as suas metas são sonhos com prazo para realização!

Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
Robert Frost

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Agradecimento especial




No próximo dia 16 de dezembro, ao passo que concomitantemente embarco para meu primeiro intercâmbio em Bangladesh, termina minha experiência de quase 3 anos como parte da AIESEC em Juiz de Fora.
Foto do primeiro Discovery Days da AIESEC em Juiz de Fora / abril 2008

Ao longo destes 3 anos de experiência, passei por 2 comitês organizadores, 3 times nacionais (agora como coordenador), 10 conferências (2 internacionais), um ano como diretor e agora outro como presidente de comitê local. Uma experiência extensa, mas muito mais relevante não pelos cargos em si, mas sim pelos desafios que tive que enfrentar em cada momento.

A começar pela institucional, a AIESEC é uma organização que eu considero idealisticamente perfeita. É impossível achar alguém em sã consciência que seja contra a missão da AIESEC, que consiste na paz e preenchimento das potencialidades humanas. Uma plataforma internacional para que jovens explorem e desenvolvam seu potencial de liderança buscando o impacto positivo na sociedade. A frase e definição criam uma organização única para desenvolvimento de competências exigidas não somente pelo mercado de trabalho, mas sim para a vida.

Costumo dizer pras pessoas que ninguém é capaz de motivar alguém; através de palavras, elas podem ter um efeito em uma pessoa ou em outra. Mas motivação é algo que vem internamente, uma força que te conecta de coração com aquilo. O que todas as pessoas do mundo ao seu redor podem fazer para te motivar são nada mais que mostrar possibilidades e oportunidades que você pode ambicionar, mas se você não compra a ideia, não dá certo.

Eu comprei a ideia da AIESEC. Eu comprei um compromisso com criar uma sociedade com menos preconceitos, de ter uma experiência que fosse relevante não só para mim, mas para impactar quem estivesse ao meu redor. E ao longo destes anos tiveram algumas histórias que me fizeram ver e refletir sobre a força de pessoas conectadas por um ideal.

Cye Sergio, primeiro trainee da @JF (sentado de branco)

O primeiro aspecto que me fez refletir foi o contato com o internacionalismo. Pessoas de diferentes países, com diferentes culturas, me fizeram aprender sobre "os problemas culturais". O que é um problema para alguns pode ser uma grande oportunidade para outros. Nunca me esqueci da primeira vez que falei que íamos enviar alguém para a Colômbia minha mãe reagir com estranheza e ser alvo de chacota por parte de várias pessoas. E não é que no final das contas, alguns dos maiores amigos que fiz na AIESEC ao longo destes anos vieram de lá? Aprendi muito com o nacionalismo dos colombianos, e vi como o estilo de vida deles tem a nos ensinar.

Além de brasileiro, eu sou um cidadão do mundo. Onde quer que eu esteja, pretendo aprender diferentes maneiras de tornar aquele lugar melhor para as pessoas que ali viverem, de acordo com a percepção deles. Tem muitas coisas que o Brasil deve aprender com lugares de fora, assim como tem muitas coisas que o mundo pode aprender com o Brasil; amo meu país, meu mundo, e tenho intenção de torná-lo cada dia dando mais condições para que seus habitantes estejam em condições de uma vida digna.

Eu e o presidente da AIESEC Internacional, Hugo Pereira

Aprendi na AIESEC a vencer n preconceitos meus; convivi com pessoas de diferentes universidades (UFJF, Machado, Vianna Jr., Granbery, CES, pós graduações), faculdades (Engenharias, Arquitetura, Economia, Administração, Direito) e com experiências de vida extremamente diferentes (pessoas que viajaram para países como Rússia, Índia, Tunísia, Egito). Isso me deu uma nova percepção de mundo.
Além disso, encontrei minha linha de estudo dentro da faculdade, consegui trabalhar com uma leva de oportunidades
e eventos que me moldaram como pessoa.

Mas ao longo destes 3 anos, o que mais aprendi foram com as pessoas. Por mais que a organização em si
seja idealisticamente perfeita, ela só é possível através de pessoas. Pessoas capazes e motivadas naquilo que fazem.

Agradeço a cada conversa que tive com diretores nacionais, a cada amigo que fiz, a cada congresso que participei, a cada obrigado que recebi,
a cada pessoa que selecionei, a cada intercambista que vi feliz com sua experiência, cada trainee que conheci. Para mim, é isso que fez a diferença na minha
formação. Este era o objetivo que me uniu à AIESEC: a possibilidade de me conectar a pessoas diferentes, nem melhores nem piores
que eu, simplesmente diferentes, mas algumas essencialmente brilhantes.

Carrego durante os próximos anos minha eterna gratidão à organização e me deixo a disposição para ajudá-la no que for necessário.

Para terminar, nunca vou me esquecer da história que aconteceu no Congresso Internacional 2010, na Índia.

Ao receber uma premiação de melhor projeto da AIESEC Internacional, os competitivos chineses receberam o segundo lugar.
Não houve comemoração, foi algo singelo. Não havia comoção por parte deles, chateados de não terem vencido a competição.
Para surpresa maior dos espectadores, os vencedores foram ninguém menos que o projeto de Taiwan.

O presidente da AIESEC em Taiwan, aos prantos, disse que era a primeira vez em 20 anos de existência que sua AIESEC era chamada ao palco para comemorar algum prêmio.
Agradeceu, e aplaudido de pé, desceu do palco. A premiação terminou. Os acanhados chineses se encontravam em um canto.

Você há de imaginar que perder um país muito competitivo e focado em metas perder seu prêmio para uma província
com uma série de problemas históricos não deve ser a melhor sensação do mundo. Foi quando vi o ato que mudou minha percepção e me fez acreditar mais na força da mudança.

O presidente da AIESEC na China se aproximou do de Taiwan, deu-lhe um abraço e parabenizou-o. E assim fizeram os outros
10 integrantes dos dois países, que conversavam e trocavam ideias, um olhando o prêmio do outro, mas sorrindo, se confraternizando.

Quem estava comigo não deixou de reparar que eu chorava copiosamente. Esta imagem nunca sairá da minha cabeça.

Agradeço à AIESEC em Juiz de Fora por nestes 3 anos, ter me dado esperança e força para mudar e empreender. Parto agora para um intercâmbio
em Bangladesh e outro na Indonésia, lugares que nunca tinha pensado em ir. Mas com um projeto único de mudança, e que pretendo que seja
algo que trabalhe para sempre na minha vida. Isso para mim fez toda a diferença do mundo, e mais, criou uma meta pessoal:

Ser positivamente relevante para 1 bilhão de pessoas até o final da minha vida.

Sempre estarei aqui para apoiá-los!

De um alumnus orgulhoso!

:)


domingo, 17 de outubro de 2010

Revendo um velho amigo

- Fala Léo! Quanto tempo cara!

- Iaí! Po, tempasso mesmo!

- Como é que tão as coisas?

- Cara, melhor impossível!

- E a família, como vai?

- Bom, está tudo bem! Na verdade, melhor impossível. Em julho, ganhei mais um sobrinho! O nome dele é Pablo, filho da minha irmã Aline!

- Que legal! Vai se juntar ao outro... qual o nome mesmo?

- Cássio, filho do meu irmão Cassiano. Fez um ano em agosto, nem vi passar direito! Tanta coisa mudou neste tempo...

- E aí? Como anda a faculdade?

- Então, to terminando minha monografia! O tema é Empreendedorismo Social aplicado à Responsabilidade Social Corporativa.

- Anh?

- O meu objetivo é provar para empresas que responsabilidade social vai além de não utilizar copos descartáveis e separar o lixo; é mostrar como um investimento nos verdadeiros propulsores de mudança social são um benefício para a empresa, através do seu posicionamento e do retorno intangível que existe na sua imagem. Pretendo trabalhar com programas de Negócios Sociais, baseado na obra de Muhamad Yunus, ganhador do Nobel da Paz em 2006 com seu projeto no Grameen Bank (Bangladesh) para microcrédito de comunidades carentes; e analisar uma série de outros estudos de caso que provem como RSC (CSR, em inglês) pode ser aplicada para formar uma sociedade melhor.

- Só... mas como você vai fazer pra convencer uma empresa disso?

- O meu principal foco vai ser trabalhar com uma empresa indiana, chamada Tata, que concomitantemente com seu país apresentou um grande crescimento e é símbolo do nacionalismo e do exuberante desempenho de seu país no cenário internacional; a empresa conseguiu aliar um grande investimento em empreendedorismo social, educação e financiamento de iniciativas que levassem mais benefícios à sua população com um grande retorno financeiro e de imagem que só mesmo estando lá para ver.

- Como você sabe?

- Bom, em agosto deste ano, embarquei para a Índia, onde fiz parte de uma delegação de 13 pessoas que representavam a AIESEC no Brasil, e fiquei lá durante 3 semanas, 10 dias de congresso e outras conhecendo a realidade.

- AIZEK?

- Então, AIESEC é a organização que eu estou trabalhando pelo terceiro ano seguido; agora o último no nível local, em Juiz de Fora, fechando minha gestão de 2010 como presidente do comitê local da cidade. Tem sido uma oportunidade muito gratificante e ao longo do ano me deu a oportunidade de conhecer gente do mundo todo e de aprender mais do que eu imaginava.

- Conta um pouco mais aí.

- Nestes 10 meses como presidente, aprendi bastante sobre o que quero fazer da vida. Pra começar, percebi que quero ser relevante de alguma forma para as pessoas. Não quero um trabalho que só me dê meu sustento, que eu não veja o impacto do que eu estou fazendo; quero ver pessoas tendo sua vida facilitada pelo que eu faço, e devolver ao mundo grande parte do investimento que foi feito em mim (escola particular, intercâmbio, universidade federal, oportunidade de me formar). Acho que fica claro para mim que não existe nada melhor que trabalhar com capacitação e desenvolvimento de pessoas, porque nada é tão enriquecedor do que aprender mais a cada dia, quebrar os seus mais diversos paradigmas, ter que se adaptar, e ter a certeza que você é relevante.

Nos últimos dias tenho refletido bastante qual é minha relevância de fato. Vendo o resgate dos 33 mineiros lá no Chile, eu parei pra pensar o que realmente vale a pena na vida... se eu passasse dois meses em um poço, quem estaria lá em cima pra me receber depois? Porque minha vida seria tão importante e relevante para o mundo? Será que a sociedade sentiria minha falta?
Estudando pra minha monografia, vi que o ganhador do Nobel da paz em 2006 já ajudou através de sua iniciativa mais de 20 milhões de pessoas, e inspirou outras incontáveis através de seus livros... e eu? Como poderia tornar minha contribuição mais ativa ao mundo?

Eu fiz minha escolha, e estou me esforçando agora para garantir que tenha um trabalho que me dê esta possibilidade.

- Doideira hein! Mas você não pensa em ganhar dinheiro?

- Não existe uma dicotomia entre lucrar e ter um trabalho impactante que mude a vida das pessoas; empreendedorismo social também pode ser um bom negócio, e na maioria das vezes é. O problema é que muita gente só pensa no lado assistencialista, quando também devem haver bons gestores e pessoas capacitadas para gerir estes projetos, caso contrário, eles permanecem no campo das boas ideias, péssimas execuções. E já dizia Abraham Lincoln, "Whatever you are, be a good one". A minha intenção, mais do que ganhar dinheiro, é ser bom no que faço e relevante para alguém.

- E depois de formar?

- Bom, em dezembro embarco para fazer intercâmbio.

- Pra que mais um?

- Bem, o fato é que o intercâmbio que fiz anteriormente não supriu as minhas necessidades profissionais; foi bom para aprender outra língua, mas o que eu trabalhei não tem nenhuma relação com a carreira que busco agora. A minha experiência internacional contará sim na hora de um emprego, mas o que eu fiz também conta bastante, e trabalhar numa escola de ski não está entre os meus objetivos pro futuro. Daí meu interesse em suprir esta lacuna que não consegui anteriormente. Por isso, queria um intercâmbio que me desse uma experiência de trabalho relevante, ou um intercâmbio que realmente fizesse a diferença do porque eu estava viajando, com a certeza de que contaria com um acompanhamento forte.

- E agora? Vai pra onde?

- Farei dois: Bangladesh e Indonésia.

- Bang o q?

- Bangladesh, na Ásia, ao lado da Índia, perto do Butão e do Nepal (sem trocadilhos). Indonésia, Ásia, perto da Austrália.

- Não um tinha um lugar melhor não?

- Depende do seu conceito de lugar melhor. Se você prefere passar a sua vida numa bolha ignorando as disparidades do mundo e disposto a não vê-las, realmente existem lugares melhores; não penso que haja países "melhores" que outros, o que existe sim são diferenças (abissais) nos problemas enfrentados. Mas daí a julgar algum país e usar o adjetivo melhor, eu considero errado; talvez países com problemas mais graves, que ponham em risco a vida e a dignidade humana poderiam ser chamados de países com mais desafios, mas não "piores", isso seria subjulgar uma cultura/potencial humano e estabelecer uma predestinação eterna para este local.

A minha viagem à Índia me fez perceber o quanto eu devo transformar problemas em oportunidades de melhoria; choques culturais são ótimos para te fazer refletir sobre o que é realmente essencial para a felicidade, para garantir a qualidade de vida de alguém. Eu espero no meu intercâmbio fazer a diferença, trabalhando com algo que vá me agregar conhecimento pro futuro e conhecendo uma nova realidade. Os lugares não são piores ou melhores, simplesmente diferentes...

- Tá doido rapaz...

- É, de vez em quando eu também penso isso. Mas prefiro acreditar que existem mais de 200 países ao redor do mundo, e cada um tem seus pontos positivos e negativos. Não tenho medo de enfrentar choques, de ter que me adaptar a outro lugar. De fato, as situações da minha vida em que eu tive que mudar foram as que me fizeram amadurecer. "Não existe melhoria em toda mudança, mas certamente não existe melhoria sem mudança". Espero ter serenidade para perceber e respeitar que cada sociedade tem suas necessidades e tirar o melhor de cada experiência.

- Você tá mudado!

- É, este ano me fez amadurecer. Estou me formando, ano que vem termino minha pós, e estou muito disposto a aprender ao máximo até entrar de fato no mercado. Espero que acumulando experiências relevantes e tendo humildade para aprender cada dia mais, garanta uma base para completar o meu propósito de vida: impactar positivamente na vida das pessoas.

- Ih, tá dando minha hora aqui...

- Rapaz, foi muito bom te ver! Manda um abraço pro pessoal!

- Cara, só uma última pergunta: você é feliz?

- Me considero hoje extremamente realizado com o que faço e uma pessoa bem estável em relação à suas emoções. Pra mim, o que aprendi durante o ano teve um preço incomensurável, e mais do que isso, me deixa hoje com a seguinte certeza: eu posso não concordar com você, eu posso achar o que for da sua personalidade, da sua relação com família, modo como encara a vida... mas uma coisa é certa: eu vou te respeitar, porque certamente o meu modo de ver o mundo não é lei divina, é mais uma visão no meio de 6,5 bilhões de pessoas na Terra, 230 países, sem falar das diferenças de religiões, crenças, governos... e me esforço cada dia mais para não julgar ou cometer o erro de ser intolerante.

:)

Acho que deu pra explicar um pouco dos últimos meses! Quando estiver mais livre posto mais... espero que vocês gostem!

PS: Este texto não é uma crítica a nada, nem a ninguém! É meu simples ponto de vista, meus objetivos, meus sonhos!