quinta-feira, 20 de junho de 2013

Despedida de um ano intenso!


Despedida aos membros da AIESEC no Brasil:

Hoje é meu último dia da trabalho no escritório como MCP de vocês.

Gostaria de deixar uma última mensagem a vocês.

Em 5 anos e meio de experiência na AIESEC, eu termino me sentindo feliz e preenchido por ter desfrutado do meu maior sonho ao longo destes 24 anos de vida: poder ter a oportunidade de representar a juventude brasileira.

E sair num contexto em que o Brasil está em ebulição com constantes movimentações, em que cada vez mais o jovem está em evidência e forte buscando a mudança, em que vi minhas timelines lotadas de fotos de vocês em manifestações de Manaus a Porto Alegre, ou expondo seus pontos de vista sobre o que está acontecendo, só me deixa com a certeza de que este ano foi só o começo de uma vida profissional na qual aprendi a amar e valorizar as mudanças que um pequeno grupo de pessoas que acreditam em algum impacto que valha seu tempo, recursos e expectativas é capaz de fazer.

Olhe ao seu redor, as possibilidades que você tem de se desenvolver: vender experiências que mudam a perspectiva das pessoas sobre os problemas sociais, dar impulso por experiências profissionais a futuros grandes líderes da sociedade, impulsionar e lutar por debates em nossos projetos que façam com que eles sejam cada vez mais relevantes à suas necessidades locais, criar agentes de mudança movidos a valores e crenças tão importantes neste momento do nosso país.

Costumo dizer que o produto é a manifestação física da essência de uma organização. E o produto da AIESEC é sua experiência. Sua experiência que gera pessoas como eu, como você, como as quase 20 mil que viveram-na durante a gestão do Dare, assim como outros milhares nos anos anteriores. Lembre-se na sua luta de que a AIESEC pretende "Preencher as potencialidades humanas". Pelo nosso AIESEC Way, isso significa criar indivíduos com Conhecimento, Habilidade e Atitude necessárias para encontrar seu propósito de impacto na realidade na qual está inserida. Qual é o valor da @XP para sua carreira? Isso é só o início. Não se esqueça das possibilidades de aprendizado, de tornar isso um laboratório que irá ecoar durante toda sua vida profissional, que irá fazer com que você perceba melhor que tipo de comportamentos pretende levar ou não consigo.

Sinceramente, levo comigo de MC dois anos muito prósperos profissionalmente mas que revelaram também alguns comportamentos que adquiri que não pretendo ter comigo na minha vida toda. E que bom que você descobre isso aos 20 e poucos anos, e tem essa centelha plantada desde agora. Tenho um propósito e uma ambição muito mais clara do que há anos atrás, tenho meus valores mais consolidados, tenho erros a perder de vista, tenho lágrimas de alegria a perder a conta.

E o que eu levo deste nosso convívio, desta experiência? Cada momento que se eternizou na minha busca por propósito e que me faz estar aqui voluntariamente sentado nesta cadeira escrevendo pra vocês. É ver 500 jovens cantando juntos "Aquarela do Brasil", é ver 500 pessoas aplaudindo de pé a comemoração de um CL que lutou aquele ano todo por um propósito, é poder sentar com vocês em almoços e jantares e levar um pouco do aprendizado e da história de cada um de vocês. E ter a certeza de que este foi só o início da minha vida profissional me dá muito gás pra confiar no mundo e nas pessoas de que muita coisa boa ainda está reservada pra minha história.

Obrigado pela confiança, pelos feedbacks, pelos abraços, pelo choro, por terem suportado nossos erros, pela raiva, pela alegria, pelo reconhecimento, pela responsabilidade.

Saio com a certeza de que convivi com 5 mil pessoas que queriam o melhor para a AIESEC no Brasil, e nunca duvidei das intenções de alguém querer prejudicar este propósito que é muito maior do que qualquer ego, qualquer pessoa, ou qualquer estratégia. Ele é atemporal e sempre lutará por gerar líderes para a sociedade mundo afora.

Saio agora para uma busca e realização de um sonho: um ano sabático para viajar ao redor de diversos lugares do mundo, para construir a base da minha ideia de empreendimento estudando e vivendo culturas diferentes antes de começar meus planos futuros. Se quiserem saber mais, podem ir acompanhando meu blog: www.futuroempauta.blogspot.com , que começo a postar a partir de julho!

E o mais legal é que o propósito continua bem próximo ao que foi este ano: "Activating youth to build the change Brazil needs".

Nos vemos pelo mundo! :D

Abraços,

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A música que não sai da minha cabeça.

Hoje eu estava pensando numa frase que escutei há bastante tempo, numa viagem vendo um seriado no avião. Ela dizia: "Não saber o que você sente não significa que você não sente nada". E tem algum tempo que eu me pego às vezes pensando nisso: o que aconteceram com grandes paixões minhas do passado que estão mais adormecidas hoje? O que aconteceu com meus sonhos de criança hoje? O que aconteceu com cada batida forte do coração.

Eu tenho um sonho um pouco tosco e idiota. Mas eu sempre sonhei em cantar ópera. Não que minha voz seja uma maravilha. Mas desde pequeno, quando eu tocava o básico de piano que aprendi, fiz aula de canto e meu violão, eu sempre sonhava com um dia que pudesse me apresentar num Cruzeiro estilo Roberto Carlos canta (hehe) cantando um Frank Sinatra, um Elvis Presley.

E essa música que não sai da minha cabeça.

No meio de São Paulo, construindo todo o caminho que pretendo trilhar nos próximos anos, é difícil parar pra pensar que um dia eu faria isso. Mas também meu coração batia muito forte por futebol há um tempo. Sempre olhava os jogos, acompanhava quarta e domingo, mas de uns tempos pra cá me doía. Um stress incontrolável quando se perdia um jogo, uma atitude de raiva à toa. Tive que aprender a me controlar e diminuir por um tempo meu engajamento com isso. É meio que incontrolável, mas dizem que não se pode controlar seus sentimentos completamente, somente suas reações. E a vontade que eu tinha que me levou a entrar na faculdade de comunicação pra ser Jornalista esportivo ficou pelo caminho.

E essa música que não sai da minha cabeça.

Olhar pra trás e ver sonhos como estes me lembra também a história do meu vestibular. Tentando Jornalismo na UFJF e na UERJ. E aí, sem nota na UERJ, comecei a fazer UFJF, mesmo me sentindo mal por ter fracassado na minha possibilidade ir pro Rio e ter sido reprovado em algo pela primeira vez depois de muito tempo. E só descobrir que fui chamado pro segundo semestre mais de um ano depois, enquanto procurava meu nome no google. Meu também sonho de poder estar no Rio, vontade de viver em alguma cidade diferente e explorar algo, acabou que ficou pelo caminho naquela hora. Mais uma vez, uma verdade absoluta tão mutável quanto o criador da mesma.

E essa música que não sai da minha cabeça.

Seja quanto a morar numa cidade que gostaria, seguir uma paixão irracional ou conviver com um sonho esdrúxulo que não me sai da cabeça, depois de 23 anos, todos estes sonhos incompletos ou vidas paralelas que nunca existiram formam um vácuo no íntimo da alma de olhar para trás e inseguro de pensar: será que os meus sonhos de hoje também ficarão pelo caminho? Será que tudo isso que eu vivi até agora e minhas paixões serão renegadas até o final da minha jornada?

Acho que existe algo muito além da razão que rege o caminho das pessoas. Muito além do que é compreensível, padrões de sentimentos e contemplações que vem impressas em cada um. E acho do fundo do meu coração que lá no fundo eu sei que, se estas paixões tem um impacto tão grande em mim, elas não morrerão. Podem estar adormecidas, podem não ser praticadas no dia de hoje, porque tenho uma outra paixão que me move agora. Mas elas sempre continuarão comigo.

Espero que você também pense nas suas paixões ao longo da sua infância, adolescência, e o que faz delas hoje. Elas não irão embora, tampouco você. Como vai vivê-las no dia a dia?

Eu não tenho a resposta. Mas não me preocupo agora. Porque sei que meu coração bate forte como nunca por algo diferente agora. Por uma experiência que me custou suor, lágrimas e me deixa muito orgulhoso por ter um papel ativo para meu país. Como o quintal da minha casa que era enorme quando eu era menor, hoje parece que piso no Maracanã todo dia quando levanto da minha cama.

E continuo vivendo minhas paixões, de maneiras diferentes, no meu dia a dia. Não tão extensamente quanto antes, mas certamente desfrutando da mesma intensidade. Seja vendo um jogo e lembrando das inúmeras vezes que estive ao lado do meu pai fazendo isso, tocando uma música que me lembra da minha mãe, visitando o Rio e respirando aquele mar que me encantava quando criança.

Porque elas são como aquela música que não sai da minha cabeça.

Be still when you have nothing to say; when genuine passion moves you, say what you've got to say, and say it hot. 

David Herbert Lawrence

domingo, 1 de julho de 2012

De onde vem a força?

Juiz de Fora, primeiro de julho de 2012.

É marcante que eu esteja aqui neste dia tão raro.

Quase sete meses depois de ter caído na piscina como futuro Presidente da AIESEC no Brasil, eu me vejo deitado na mesma cama que estive nos últimos 23 anos no que eu chamo de minha casa. Procurando pensar nos caminhos que, ao longo destes 4 anos, fizeram as minhas escolhas se adequarem ao perfil, momento e propostas necessárias à organização.

Não é um momento fácil tomar qualquer nova responsabilidade como tua. Se sentir num novo ambiente, com novos desafios, novo papel esperado... toda esta parte de evolução é normal e assusta o ser humano, não é? Existe uma frase que sempre me motiva é a de que, não importa o quanto você se planeje e preveja cenários do futuro, as coisas darão errado, quer você queira ou não; o que fará a verdadeira diferença é como você reagirá a isto.

E é impressionante como um turbilhão de emoções vem à tona nesta hora. No mesmo momento em que assumo tal responsabilidade, vejo ao lado da minha escrivaninha a foto da minha turma de faculdade, que me ensinou tanto sobre conviver em grupo e trabalhar com uma função tão importante quanto comunicação; vejo o obituário do meu pai, exímia inspiração e pessoa sempre presente nos meus planos futuros e coisas que vivi ao longo destes anos; Vejo a minha foto com minha mãe e meu irmão, alguma das maiores fontes de energia que tenho desde o início da minha vida; diferentes momentos, como meu intercâmbio nos EUA, minha primeira viagem internacional, minha primeira conferência internacional, o primeiro trainee que recebi na minha casa... todos os momentos parecem olhar pra mim e conspirar para o dia de hoje.

Porque eu não acredito muito em estímulos de motivação externa. Acredito que a maior recompensa que existe é a certeza de ter feito o melhor trabalho que poderia ser feito. Um constante retrato de que não deixou-se de suar até o último segundo por algo que realmente acredite. E eu acredito....

Acredito num empenho descomunal que pessoas tem por um propósito em que invistam seus recursos (dinheiro, bens pessoais), expectativas e tempo para fazer algo diferente. Mas o que leva as pessoas à este local? A este sentimento de paz de estar feliz se dedicando a algo assim?

Como é difícil falar pelos outros, eu falo por mim. Sempre observei que ao longo dos anos fui mudando uma série de características. Mas o que não muda com tanta frequência são meus sentimentos.

O sentimento de felicidade ao reviver cada um destes momentos, lembrar desde minha origem as lembranças mais fortes, quando vi que meu instinto apontava que eu estava indo pro lado certo. E o quão mais eu repito este sentimento, mais eu vejo que tenho dedicado minha energia aos elementos que fazem parte do que eu quero construir.

Olhar pro lado, me sentir apto de novo a escrever e revelar meus sentimentos mais íntimos é pra mim um achado. Porque se eu demorei mais de ano pra voltar aqui é porque estava em busca de algo.

E eu achei. Eu achei o que me faz feliz. Eu achei o que me move durante todos estes anos. Os sentimentos mais intrínsecos que existem que conectam minha existência a algo maior.

No fim do dia, o que fará a diferença pra mim é o quão útil eu me sinto. O quão, seja útil em pequenos momentos do dia a dia em que troquei algumas palavras com meu irmão, jogando videogame para alegrá-lo, conversando com minha mãe, até gerindo uma reunião ou escrevendo o que eu sinto.

Cada dia é uma oportunidade de expressar sua essência. Seus sentimentos. Sua força. E não importa de onde ela venha, é importante entendê-la.

Um novo ciclo se inicia. Mas será tão mais desafiador que os outros? Será que haverão desafios maiores ou menores? Pra mim é claro que cada momento teve seu peso àquela hora. Nem melhor nem pior, simplesmente diferente.

The Age of unreason

Old Golfers don't win (it's not an absolute, it's a general rule).
Why?
The older golfer can hit the ball as far as the young one.
He chips and putts equally well.
And will probably have a better knowledge of the course.
So why does he take the extra stroke and denies him victory?
Experience.
He knows the downside, what happens if it goes wrong, which makes him more cautious.
The young player is either ignorant or reckless to caution.
That is his edge.
It is the same with all of us.
Knowledge makes us play safe.
The secret is to stay childish.

:)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Inovação ou fragmentação?

Empreendedorismo. O fenômeno do momento. A possibilidade de vencer o desemprego, se encontrar num país em franca ascenção com possibilidades de créditos para pequenas e medias empresas se ampliando, grandes novos CEOs fazendo história, novos MBAs, CBAs, instituições que apoiam a educação para empreender.

Mas afinal, toda pessoa que abre seu próprio negócio é empreendedor? Qual o verdadeiro conceito da palavra, que é tão usada hoje nos livros de business e administração?

O primeiro economista a utilizer a palavra “entrepreneur” foi o francês Jean Baptiste Say, no século XVIII, para descrever agricultores que fizeram uma reforma no sistema agrícola da região com novas técnicas de irrigação e plantio que tornaram a chegada ao resultado mais simples e prática. Depois, empreendedor foi denominado como "The entrepreneur shifts economic resources out of lower and into higher productivity and greater yield". Mais tarde, o economista Schumpeter definiu empreendedor com o intuito de agregar valor e ter um propósito para a entrega do produto.

Ora, partindo da lógica acima descrita, precisamos de empreededores em todos os setores da sociedade. Precisamos de politicos empreendedores, que puxem o primeiro setor para otimizar a utilização de recursos de acordo com a realidade em que atuam para extrair os resultados desejados para a populacão; precisamos de empresários no Segundo setor empreendedores, como o recém aposentado Steve Jobs, que causou revolução nos padrões de consumo e necessiadade das pessoas que buscavam produtos inovadores e facilitou uma série de processos dentro das empresas que antes tornavam o trabalho burocrático e complexo. Precisamos de empreendedores no terceiro setor que compreendam que este não é um setor que se baseia no assistencialismo, nem em tapar buracos do primeiro setor, mas que tem um papel ativo sobre a construção e educação dos valores da sociedade.

E mais que isto, precisamos que estes empreendedores não ajam fragmentados. Que sim, sejam movidos por um propósito individual para seus negócios, uma missão e existência única para suas organizações, mas que não estejam isolados por uma rede de crenças e barreiras que os impeçam de exponencializar seu impacto.

Um exemplo claro que vem a minha cabeça é o de uma série de instituições de caridade. Apoio as iniciativas com todo meu curacao e energia, defendo uma série de organizações que buscam combater a pobreza de uma maneira ativa e extremamente impactante para o sociedade.

Mas reflita consigo mesmo: quantas instituições você conhece que lutam contra a pobreza? Agora, quantas são católicas, quantas são espíritas, quantas são evangélicas? Mas todas lutam pela mesma causa, não? Quantas vezes já presenciamos que elas se unissem por um impacto único?

Tal união seria benéfica por conseguir administrar uma marca de alta anexação pela sociedade, credibilidade e complexidade dos investimentos e retorno a longo prazo para instituições maiores. Mas isto não acontece, porque apesar da boa vontade e do trabalho excepcional, as diferentes crenças e barreiras culturais não permitem a aproximação. Ou se permitem, ela é extremamente limitada.

O fato é que não quero discutir religião, nem crenças, só me sinto num mundo hoje que está fragmentado. Quem tem boas ideias, quem busca algo como um propósito forte de vida, vai e abre seu próprio negócio; vai “empreender”. Mas nem sempre abrir uma nova empresa com propósito extremamente semelhante a outra vai impulsionar o país como um todo.

É só olhar o número de empresas que fecham em menos de 5 anos depois de sua abertura; quem sabe se tívessemos empreendedores trabalhando em incubadoras para reforçar estas instituições, se tívessemos líderes no terceiro setor que prezassem não somente pela sustentabilidade das instituições, mas por uma constituição de um plano de longo prazo de impacto da mesma sobre a sociedade, poderíamos criar uma sociedade mais conectada.

Num Brasil que já cansou de escutar que é o país do futuro, a geração atual tem um forte viés a ter credibilidade limitada no governo que fez tantas promessas e que errou bastante, o que criou uma proatividade de resolver os problemas com as próprias mãos ao invés de se tornar uma geração passiva que só protesta mas qua não se move para mudar o país.

Apesar deste movimento sadio de abertura de novas empresas, devemos lembrar também que uma sociedade não se forma de fragmentos de setores, ou de partes diferentes; a própria divisão é confusa, porque no final de contas somos todos a sociedade brasileira.

Espero que num futuro breve, possamos olhar e ver como os setores do nosso país são bem relacionados e movem o país como um todo para frente; como temos grandes líderes e eles são maioria em todas as ativiades de impacto social; e como esta harmonia nos torna um país único que tem tudo para ditar as tendências de liderança nas próximas décadas.

domingo, 4 de setembro de 2011

A coerência das incoerências

Domingo, 4 de setembro de 2011. 1 e 25 da tarde, horário de Brasília. Estou no ultimo avião de volta a São Paulo, depois de 20 dias dos mais intensos da minha jornada até agora.

Não existiria outra palavra para descrever os sentimentos que me colocaram em cheque durante esta viagem. A primeira vez visitando o continente africano, em um congresso voltado para jovens de mais de 100 países, 600 pessoas, durante 10 dias num Hotel em Nairobi, no Quênia.

O meu principal objetivo do congresso era entender melhor pessoas. Entender suas motivicões, seus sonhos, e como elas agem para conseguir chegar mais próximo disto.

Acredito que educação é um misto de motivação com o modo como você absorve o conhecimento exposto. Por isto, tive uma atenção especial ao modo como os facilitadores se comportavam, à reação das pessoas, e tentava ao máximo me colocar em Terceira pessoa para perceber o que acontecia no ambiente ao meu redor.

As histórias mais marcantes para mim novamente foram as que me colocaram em cheque ou que testaram meu limite. E isto expôs uma necessidade quase intrínseca relacionada a minha existência de vontade de crescer e tentar me dedicar a aspectos diferentes.

Os facilitadores que mais me chamaram a atenção eram teatrais; utilizavam de arte, música, expressões lúdicas do pensamento humano que fugiam ao lugar comum das exposições e sessões bem planejadas que não percebem o comportamento e motivicão de quem está na sala.

Isto também me impulsionou a trabalhar cada vez mais arte e estudar cada vez mais. É um ciclo que te coloca cada vez mais perto da expressão da verdadeira alma humana, ao contrario de só usar os 5 sentidos para perceber o que existe ao redor; numa conversa, numa aula, num ambiente de trabalho, não existe somente um aglomerado de pessoas respirando e vivendo; existe uma energia, uma conexão que só haveria entre aquelas pessoas naquele momento ali colocado.

Um exemplo para ficar mais prático: numa roda de discussões que estava, que discutia qual era o teu sonho e o que você tinha feito para alcançá-lo, uma das pessoas insistia em dizer que não importa quanto mais você se dedique para chegar a um estado ideal, o mundo sempre vai te puxar para baixo; sempre alguém vai tentar colocar por terra seu objetivo, ou dará um jeito de atrapalhá-lo.

É interessante observar as reações depois. Uma das pessoas se colocou simplesmente em modo away da discussão ao ouvir isto, outro retrucou e recolocou o foco na discussão; mas o que mais me impressionava era ver como a energia parecia algo manipulável, volátil, como um vapor que levava a discussão a lugares intermináveis.

Uma vez me disseram que a partir do momento que você expressa algo para as pessoas ao redor, você acaba de perder o controle sobre as reações que aquilo despertará; você não pode controlar seus sentimentos, mas pode sim controlar as suas expressões para evitar reações adversas de uma maneira nociva as pessoas que se colocam ao teu lado.

Por que eu estou falando isto tudo? Porque este foi o meu principal aprendizado nesta viagem. “Nunca diga algo que você não suportaria sendo a última coisa que falaria na tua vida” foi a frase que mais me fez refletir sobre a coerência entre o que você acredita, fala e faz.

Parece simples e cliché, mas quando você para pra perceber quantas contradições e desafios existem em entregar perfeitamente os 3 pontos, você percebe o quanto viver uma vida coerente foi para poucos.

A incoerência no meio disto tudo é que quanto mais você se coloca em Terceira pessoa e se observa, mais você se liberta da dicotomia entre o que você pensa que é e como é percebido pelos outros. Em outras palavras, para perceber tua própria essência, você não pode só vive-la a flor da pele, nem simplóriamente viver a alma por si só.

Eu aprendi a me perceber melhor colhendo a coerência das incoerências entre o que eu falava, fazia e acreditava. O GAP, a distância entre estes 3 pontos me fazem mais perto ou longe de perceber o sentido da minha existência.

Este texto foi um dos mais abstratos que já escrevi. Mas é o que eu tirei desta experiência. Para alguém que acredita num futuro diferente para educação e modo de formação do indivíduo na sociedade, conviver com pensamentos extremamente diferentes, expandindo meus horizontes em relação a limite físico e psicologico e me sentindo mais motivado a entender que o caminho que escolhi vai ser muito mais difícil que pensava, o IC foi um alento único.

“I might not know all the answers, but I’m not afraid of the questions”

Houston Spencer

quarta-feira, 30 de março de 2011

Solidariedade é uma função constante

110 dias.

110 dias das experiências que vivi e que nenhum plano que eu tinha na minha infância podia imaginar.

Eu não imaginava nunca que iria fazer um intercâmbio em Bangladesh nem na Indonésia; que iria ao Vietnã e à Índia. E ainda assim, eu vivi tudo isso. Por que?

Tudo começa numa salinha de entrevistas em 2008, abril, que me fez entrar na AIESEC, mas a razão está presente há muito mais tempo. É um sentimento que brota no teu peito de você olhar pra trás e perceber que tudo se encaixou do melhor modo... e hoje olhando pra trás, como minhas esta experiência de intercâmbio me modificou?

Primeiro Bangladesh. Uma oportunidade única de trabalhar com o Grameen Bank, descobrindo uma das organizações mais pioneiras e revolucionárias do pragmático sistema capitalista, voltada para ajudar os pobres. Négocio social ainda é um óasis no deserto, mas vem crescendo com muita força e pode ser fundamental para a ascenção social nos próximos anos. E o banco vencedor do prêmio nobel da paz em 2006 não deixa de servir de inspiração pros próximos empreendedores do ramo.

Para mim não foi diferente. Cresci demais aprendendo a viver num país muçulmano, costumes extremamente diferentes, e que me fizeram valorizar mais cada aspecto cultural. Por exemplo, tinha dias em que simplesmente me vestia como um bengali e ia caminhar pela cidade. Para sentir o intercâmbio, para observar, e para respirar a experiência. Pra mim que já tinha feito um intercâmbio anteriormente, a diferença desta vez foi assustadora; mas assustadora porque excedeu minhas expectativas de aprendizado.

Exemplos: a disciplina dos muçulmanos em relação a seus rituais; o modo como as relações sociais afetam os objetivos da sociedade a longo prazo, como por exemplo na pressão familiar por casamento; até a ausência de alcóol em locais públicos é uma coisa que diferencia o local. Além disso, Bangladesh é o país com a maior densidade demográfica do mundo, e vive situações complicadas em relação ao governo, que inclusive levaram à expulsão de Muhammad Yunus do cargo de Chairman do Grameen Bank (voltarei nisso mais tarde). Portanto, um país muito necessitado, mas cheio de potencial humano pra crescer e com algumas práticas em microcrédito de dar inveja às grandes instituições financeiras.

Bangladesh foi também quando vivi num flat com mais de 20 pessoas de diferentes nacionalidades. Convivendo com eles, discutindo sobre o futuro de nossos países, tentando extrair o máximo de conteúdo relevante das nossas conversas, coisa que não fiz muito no meu primeiro intercâmbio; o perfil das pessoas interessadas também me ajudou bastante, porque todos estavam muito afim de trabalhar e aprender com o Grameen Bank. Então, foi um tempo de grandes amizades.

Foi também em Bangladesh que vivi isolado numa vila para estudar os que tomaram empréstimos do Grameen Bank; e onde me apliquei para a diretoria da AIESEC no Brasil e perdi (volto nisso mais tarde).

Cheguei então para meu segundo intercâmbio na Indonésia, um país que me surpreendeu desde o primeiro momento por sua alegria e pessoas muito cativantes. E eu fui cativado.

Trabalhava com um autor de best-sellers na Indonésia sobre liderança e descobri o quanto é apaixonante ajudar as pessoas fazendo o que gosta. Ajudando-as em projetos, fazendo-as descobrir e pensar fora da caixa em relação a empreendedorismo.

A vida em Bandung era muito, mas muito boa; uma das melhores cidades da Indonésia, um ótimo clima, ótimas pessoas, e a oportunidade de viver com uma família muçulmana dia após dia, tendo duas "irmãs", um "pai"e uma "mãe" indonésios. Um trabalho excepcional que me deu forças pra muito tempo da minha vida, observando como as pessoas são felizes aqui.

Uma coisa que levo da Indonésia é que, mesmo quando eles tem dificuldades financeiras, é difícil você ver um mendigo na rua. Provavelmente, você vai parar teu carro e virá alguém tocando violão pra você, tocando violino, fazendo mágicas. Eles não pedem o dinheiro, mas sim fazem algo para merecê-lo. E pelo que percebi, as pessoas se sentem mais inclinadas a dar dinheiro nesta possibilidade. E complementou o que tinha visto em Bangladesh: as possibilidades de ascenção social se iniciam sobre os esforços dos próprios necessitados, mas sem as oportunidades e o suporte necessário, estas pessoas se tornam reféns de um sistema maligno que ignora-as por mais que se esforcem.

E daí vem na minha opinião o maior aprendizado do meu intercâmbio. Todo mundo precisa de uma oportunidade. Eu tive muitas. Eu pude estudar num colégio particular, eu pude ir pra uma faculdade federal, terminar meu curso, fazer intercâmbios... mas se você não retribui estas oportunidades pra sociedade, você realimenta um sistema em que algumas pessoas nunca receberão oportunidades como esta. É como uma função em matemática: se você ganha mais oportunidades, deve também retribuir de acordo.

No meu intercâmbio, eu descobri os verdadeiros heróis da humanidade. Não aqueles que tem um uniforme com cueca por cima da roupa, que voam e lutam contra monstros gigantes. Mas aqueles que sofrem, erram, choram, tem medo, como nós; mas que a grandeza do que eles atingiram é tão absurda que nós efetivamente nos perguntamos se estas pessoas são somente seres humanos. A dúvida, a possibilidade de cogitar o absurdo, cria um incômodo em nós; eles vão mais longe, mas continuam vivendo as emoções humanas de derrota e problemas como cada um. E este incômodo nos leva a questionar nosso verdadeiro potencial: será que eu não posso ir mais longe? Qual a diferença entre eu e estas pessoas? Como eu faço para chegar mais longe?

E é isso que me moveu aqui. Eu conheci pessoas assim como Yunus e meu chefe, e vi que eles chegaram longe... e talvez eu não estivesse realmente sabendo qual o meu limite.

E aí, veio o segundo processo de eleição. Eu me esforcei como nunca, e vi mais claramente o tamanho do que eu gostaria de fazer, e independente do resultado, eu sabia que havia me esforçado como nunca. E assim o farei daqui pra frente nos próximos desafios... É como se meu coração batesse mais forte agora, revigorado pelos exemplos e ensinamentos que tive de culturas.

Na última parte da minha viagem tive o maior exemplo disto. Fui ao Vietnã no congresso da AIESEC na Ásia Pacífico (APXLDS). Quando você via as pessoas do Afeganistão e do Japão se esforçando pra mudar seus países, pra superar as dificuldades... eu ficava me perguntando de onde eles tiram força, e mais ainda que isso, afirmando pra mim mesmo que não ia tirar o pé do freio pra retribuir isso de jeito nenhum.

Não foi fácil pra estas pessoas, não é fácil pra você, nem pra mim. É tudo uma questão de transformar tuas oportunidades em algo relevante pra quem investiu em você.

Que venham os 2 dias de viagem. Que venha esta nova fase da minha vida. E fica o meu muito obrigado por todo mundo que participou desta experiência, que me deixou extremamente apaixonado por viver.

:)


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Mais um ano de vida!

Sempre que chega meu aniversário ou algo do tipo, tem gente que me fala que sou muito chato, que tenho uns pontos de vista muito loucos, que sou enjoado. É porque eu arrumei uma cisma com aniversário.

Muita gente vê e espera nos aniversários comemorar com felicidade, sorriso no rosto, sair, sei lá, ter um bom tempo. Para mim, o dia do seu aniversário é mais um simbolismo.

É a hora que você para pra refletir sobre tudo que aconteceu sobre um período pré-estabelecido de tempo (no caso, 365 dias). Ninguém pôs nos dez mandamentos da física comemorar aniversário, nem que 365 dias era o tempo em que você deveria receber presentes e parabéns. É um simbolismo. Um simbolismo que muita gente, a meu ver, não compreende, e passa sem perceber o que está acontecendo ao redor.

Eu me lembro de ter conversado com alguém sobre comunidades alternativas. Em algumas, elas não comemoram aniversário; comemoram sim, conquistas. Por exemplo: É muito mais valioso para uma criança receber uma festa depois do primeiro dia que ela dormiu sem chupeta, ou que foi para a aula e não chorou, do que uma festa por ano num dia pré estabelecido; para algumas pessoas, é muito mais valioso o dia em que você esquece o número de celular da sua ex-namorada, ou que você vai dormir sem chorar a perda de alguém querido. Significa que as feridas estão cicatrizando, que você está vencendo etapas e desafios, que está mudando. E o tempo é relativo pra cada um, o bem mais precioso que alguém pode ter; ele não volta mais, mas cada momento é eternizado pela memória de cada um. E isso é o que o faz tão esguio; ele está ali, mas quando você vê já passou. Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...

Já passei aniversários que não lembro, mas dias memoráveis em que levantei achando que seria mais um qualquer na minha vida e que tive 15 minutos que mudaram o curso de muita coisa. 15 minutos em que você recebe a notícia que vai ter um sobrinho, 15 minutos do lado de fora da sala de espera do hospital ouvindo sobre a morte do seu pai, 15 minutos em que você tem a última conversa com seu irmão antes de embarcar para 4 meses de viagem.

Por que estou falando isso tudo? Porque este é o dia oficial da minha reflexão. Eu estou comemorando mais um ano de vida ou menos um ano de vida? O que eu fiz de relevante durante estes 365 dias? O que eu vivi? O que eu não vou esquecer o resto da minha vida?

Este ano, acabaram-se vários ciclos marcantes da minha vida. Terminei minha faculdade. Aqueles quatro anos, que não sabia como iam terminar, a tensão de conseguir o emprego depois de formado, as saudades de quem conviveu contigo estes anos... para mim, esta (primeira?) faculdade terminou.

Acabou também meu ciclo na AIESEC em Juiz de Fora, no ano em que assumi a presidência da organização e também foi de grande valia para minha educação e formação como ser humano. E me deu a oportunidade de conhecer pessoas brilhantes.

Foi um ano em que viajei para o Peru, Índia, Grécia, Turquia, terminando em Bangladesh, a experiência mais desafiadora da minha vida. Foi provavelmente o ano em que mais chorei na minha vida.

Chorei de tristeza. Chorei a ausência do meu pai por mais um ano, chorei derrotas, chorei de saudades de quem amo, chorei pela impossibilidade de ajudar quem estava do meu lado, de ver pessoas sem oportunidade, de ver o quão pouco eu tenho feito aos mais necessitados.

Mas chorei de alegria. De ver meus amados crescendo, conquistando novos desafios, de receber um novo sobrinho, de ter minha família, amigos e namorada do lado, de ver novas possibilidades de ajudar quem precisa, de ter as oportunidades que tive e a gratidão que tenho de retribuir isso de alguma forma para a sociedade.

Este ano, eu comemoro mais um ano de vida. Foi provavelmente o ano que mais vivi na minha vida. Provavelmente o mais envolvente, o mais memorável, o período de 365 dias que gostaria de repetir a intensidade para sempre.

Na minha primeira hora desde vigésimo segundo ano, fomos a um acampamento com meu chefe e 50 alunos. Fizemos uma excursão noturna aos campos de chá. Você ficava com os olhos vendados, no meio da mais pura escuridão, sozinho, apoiando sua mão numa corda que guiava o caminho.

Foi provavelmente a sensação mais rejuvenescedora da minha vida. Não ter nada ao seu redor, na completa escuridão. E foi ali que eu percebi o que eu quero este ano. Pensei em cada momento que vivi nestes últimos dias. E vi que, aconteça o que acontecer, não vou esquecer esta sensação. A sensação de andar no escuro, no meio do nada, sem rumo, mas aproveitando cada momento desta caminhada. Porque quando você menos esperar, você já está voltando pra luz e aquele momento já passou. Aquela degustação da vida já se evaporou pelos seus dedos. E é assim que eu pretendo viver cada segundo.

Agradeço a Deus por mais um ano de vida. Principalmente por ter colocado duas pessoas tão únicas e boas como meus pais que tenho o privilégio de conviver e aprender. E espero que no próximo ano tenha mais coisa pra contar.

"I have been impressed with the urgency of doing. Knowing is not enough; we must apply. Being willing is not enough; we must do."

Leonardo da Vinci