quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Inovação ou fragmentação?

Empreendedorismo. O fenômeno do momento. A possibilidade de vencer o desemprego, se encontrar num país em franca ascenção com possibilidades de créditos para pequenas e medias empresas se ampliando, grandes novos CEOs fazendo história, novos MBAs, CBAs, instituições que apoiam a educação para empreender.

Mas afinal, toda pessoa que abre seu próprio negócio é empreendedor? Qual o verdadeiro conceito da palavra, que é tão usada hoje nos livros de business e administração?

O primeiro economista a utilizer a palavra “entrepreneur” foi o francês Jean Baptiste Say, no século XVIII, para descrever agricultores que fizeram uma reforma no sistema agrícola da região com novas técnicas de irrigação e plantio que tornaram a chegada ao resultado mais simples e prática. Depois, empreendedor foi denominado como "The entrepreneur shifts economic resources out of lower and into higher productivity and greater yield". Mais tarde, o economista Schumpeter definiu empreendedor com o intuito de agregar valor e ter um propósito para a entrega do produto.

Ora, partindo da lógica acima descrita, precisamos de empreededores em todos os setores da sociedade. Precisamos de politicos empreendedores, que puxem o primeiro setor para otimizar a utilização de recursos de acordo com a realidade em que atuam para extrair os resultados desejados para a populacão; precisamos de empresários no Segundo setor empreendedores, como o recém aposentado Steve Jobs, que causou revolução nos padrões de consumo e necessiadade das pessoas que buscavam produtos inovadores e facilitou uma série de processos dentro das empresas que antes tornavam o trabalho burocrático e complexo. Precisamos de empreendedores no terceiro setor que compreendam que este não é um setor que se baseia no assistencialismo, nem em tapar buracos do primeiro setor, mas que tem um papel ativo sobre a construção e educação dos valores da sociedade.

E mais que isto, precisamos que estes empreendedores não ajam fragmentados. Que sim, sejam movidos por um propósito individual para seus negócios, uma missão e existência única para suas organizações, mas que não estejam isolados por uma rede de crenças e barreiras que os impeçam de exponencializar seu impacto.

Um exemplo claro que vem a minha cabeça é o de uma série de instituições de caridade. Apoio as iniciativas com todo meu curacao e energia, defendo uma série de organizações que buscam combater a pobreza de uma maneira ativa e extremamente impactante para o sociedade.

Mas reflita consigo mesmo: quantas instituições você conhece que lutam contra a pobreza? Agora, quantas são católicas, quantas são espíritas, quantas são evangélicas? Mas todas lutam pela mesma causa, não? Quantas vezes já presenciamos que elas se unissem por um impacto único?

Tal união seria benéfica por conseguir administrar uma marca de alta anexação pela sociedade, credibilidade e complexidade dos investimentos e retorno a longo prazo para instituições maiores. Mas isto não acontece, porque apesar da boa vontade e do trabalho excepcional, as diferentes crenças e barreiras culturais não permitem a aproximação. Ou se permitem, ela é extremamente limitada.

O fato é que não quero discutir religião, nem crenças, só me sinto num mundo hoje que está fragmentado. Quem tem boas ideias, quem busca algo como um propósito forte de vida, vai e abre seu próprio negócio; vai “empreender”. Mas nem sempre abrir uma nova empresa com propósito extremamente semelhante a outra vai impulsionar o país como um todo.

É só olhar o número de empresas que fecham em menos de 5 anos depois de sua abertura; quem sabe se tívessemos empreendedores trabalhando em incubadoras para reforçar estas instituições, se tívessemos líderes no terceiro setor que prezassem não somente pela sustentabilidade das instituições, mas por uma constituição de um plano de longo prazo de impacto da mesma sobre a sociedade, poderíamos criar uma sociedade mais conectada.

Num Brasil que já cansou de escutar que é o país do futuro, a geração atual tem um forte viés a ter credibilidade limitada no governo que fez tantas promessas e que errou bastante, o que criou uma proatividade de resolver os problemas com as próprias mãos ao invés de se tornar uma geração passiva que só protesta mas qua não se move para mudar o país.

Apesar deste movimento sadio de abertura de novas empresas, devemos lembrar também que uma sociedade não se forma de fragmentos de setores, ou de partes diferentes; a própria divisão é confusa, porque no final de contas somos todos a sociedade brasileira.

Espero que num futuro breve, possamos olhar e ver como os setores do nosso país são bem relacionados e movem o país como um todo para frente; como temos grandes líderes e eles são maioria em todas as ativiades de impacto social; e como esta harmonia nos torna um país único que tem tudo para ditar as tendências de liderança nas próximas décadas.

domingo, 4 de setembro de 2011

A coerência das incoerências

Domingo, 4 de setembro de 2011. 1 e 25 da tarde, horário de Brasília. Estou no ultimo avião de volta a São Paulo, depois de 20 dias dos mais intensos da minha jornada até agora.

Não existiria outra palavra para descrever os sentimentos que me colocaram em cheque durante esta viagem. A primeira vez visitando o continente africano, em um congresso voltado para jovens de mais de 100 países, 600 pessoas, durante 10 dias num Hotel em Nairobi, no Quênia.

O meu principal objetivo do congresso era entender melhor pessoas. Entender suas motivicões, seus sonhos, e como elas agem para conseguir chegar mais próximo disto.

Acredito que educação é um misto de motivação com o modo como você absorve o conhecimento exposto. Por isto, tive uma atenção especial ao modo como os facilitadores se comportavam, à reação das pessoas, e tentava ao máximo me colocar em Terceira pessoa para perceber o que acontecia no ambiente ao meu redor.

As histórias mais marcantes para mim novamente foram as que me colocaram em cheque ou que testaram meu limite. E isto expôs uma necessidade quase intrínseca relacionada a minha existência de vontade de crescer e tentar me dedicar a aspectos diferentes.

Os facilitadores que mais me chamaram a atenção eram teatrais; utilizavam de arte, música, expressões lúdicas do pensamento humano que fugiam ao lugar comum das exposições e sessões bem planejadas que não percebem o comportamento e motivicão de quem está na sala.

Isto também me impulsionou a trabalhar cada vez mais arte e estudar cada vez mais. É um ciclo que te coloca cada vez mais perto da expressão da verdadeira alma humana, ao contrario de só usar os 5 sentidos para perceber o que existe ao redor; numa conversa, numa aula, num ambiente de trabalho, não existe somente um aglomerado de pessoas respirando e vivendo; existe uma energia, uma conexão que só haveria entre aquelas pessoas naquele momento ali colocado.

Um exemplo para ficar mais prático: numa roda de discussões que estava, que discutia qual era o teu sonho e o que você tinha feito para alcançá-lo, uma das pessoas insistia em dizer que não importa quanto mais você se dedique para chegar a um estado ideal, o mundo sempre vai te puxar para baixo; sempre alguém vai tentar colocar por terra seu objetivo, ou dará um jeito de atrapalhá-lo.

É interessante observar as reações depois. Uma das pessoas se colocou simplesmente em modo away da discussão ao ouvir isto, outro retrucou e recolocou o foco na discussão; mas o que mais me impressionava era ver como a energia parecia algo manipulável, volátil, como um vapor que levava a discussão a lugares intermináveis.

Uma vez me disseram que a partir do momento que você expressa algo para as pessoas ao redor, você acaba de perder o controle sobre as reações que aquilo despertará; você não pode controlar seus sentimentos, mas pode sim controlar as suas expressões para evitar reações adversas de uma maneira nociva as pessoas que se colocam ao teu lado.

Por que eu estou falando isto tudo? Porque este foi o meu principal aprendizado nesta viagem. “Nunca diga algo que você não suportaria sendo a última coisa que falaria na tua vida” foi a frase que mais me fez refletir sobre a coerência entre o que você acredita, fala e faz.

Parece simples e cliché, mas quando você para pra perceber quantas contradições e desafios existem em entregar perfeitamente os 3 pontos, você percebe o quanto viver uma vida coerente foi para poucos.

A incoerência no meio disto tudo é que quanto mais você se coloca em Terceira pessoa e se observa, mais você se liberta da dicotomia entre o que você pensa que é e como é percebido pelos outros. Em outras palavras, para perceber tua própria essência, você não pode só vive-la a flor da pele, nem simplóriamente viver a alma por si só.

Eu aprendi a me perceber melhor colhendo a coerência das incoerências entre o que eu falava, fazia e acreditava. O GAP, a distância entre estes 3 pontos me fazem mais perto ou longe de perceber o sentido da minha existência.

Este texto foi um dos mais abstratos que já escrevi. Mas é o que eu tirei desta experiência. Para alguém que acredita num futuro diferente para educação e modo de formação do indivíduo na sociedade, conviver com pensamentos extremamente diferentes, expandindo meus horizontes em relação a limite físico e psicologico e me sentindo mais motivado a entender que o caminho que escolhi vai ser muito mais difícil que pensava, o IC foi um alento único.

“I might not know all the answers, but I’m not afraid of the questions”

Houston Spencer

quarta-feira, 30 de março de 2011

Solidariedade é uma função constante

110 dias.

110 dias das experiências que vivi e que nenhum plano que eu tinha na minha infância podia imaginar.

Eu não imaginava nunca que iria fazer um intercâmbio em Bangladesh nem na Indonésia; que iria ao Vietnã e à Índia. E ainda assim, eu vivi tudo isso. Por que?

Tudo começa numa salinha de entrevistas em 2008, abril, que me fez entrar na AIESEC, mas a razão está presente há muito mais tempo. É um sentimento que brota no teu peito de você olhar pra trás e perceber que tudo se encaixou do melhor modo... e hoje olhando pra trás, como minhas esta experiência de intercâmbio me modificou?

Primeiro Bangladesh. Uma oportunidade única de trabalhar com o Grameen Bank, descobrindo uma das organizações mais pioneiras e revolucionárias do pragmático sistema capitalista, voltada para ajudar os pobres. Négocio social ainda é um óasis no deserto, mas vem crescendo com muita força e pode ser fundamental para a ascenção social nos próximos anos. E o banco vencedor do prêmio nobel da paz em 2006 não deixa de servir de inspiração pros próximos empreendedores do ramo.

Para mim não foi diferente. Cresci demais aprendendo a viver num país muçulmano, costumes extremamente diferentes, e que me fizeram valorizar mais cada aspecto cultural. Por exemplo, tinha dias em que simplesmente me vestia como um bengali e ia caminhar pela cidade. Para sentir o intercâmbio, para observar, e para respirar a experiência. Pra mim que já tinha feito um intercâmbio anteriormente, a diferença desta vez foi assustadora; mas assustadora porque excedeu minhas expectativas de aprendizado.

Exemplos: a disciplina dos muçulmanos em relação a seus rituais; o modo como as relações sociais afetam os objetivos da sociedade a longo prazo, como por exemplo na pressão familiar por casamento; até a ausência de alcóol em locais públicos é uma coisa que diferencia o local. Além disso, Bangladesh é o país com a maior densidade demográfica do mundo, e vive situações complicadas em relação ao governo, que inclusive levaram à expulsão de Muhammad Yunus do cargo de Chairman do Grameen Bank (voltarei nisso mais tarde). Portanto, um país muito necessitado, mas cheio de potencial humano pra crescer e com algumas práticas em microcrédito de dar inveja às grandes instituições financeiras.

Bangladesh foi também quando vivi num flat com mais de 20 pessoas de diferentes nacionalidades. Convivendo com eles, discutindo sobre o futuro de nossos países, tentando extrair o máximo de conteúdo relevante das nossas conversas, coisa que não fiz muito no meu primeiro intercâmbio; o perfil das pessoas interessadas também me ajudou bastante, porque todos estavam muito afim de trabalhar e aprender com o Grameen Bank. Então, foi um tempo de grandes amizades.

Foi também em Bangladesh que vivi isolado numa vila para estudar os que tomaram empréstimos do Grameen Bank; e onde me apliquei para a diretoria da AIESEC no Brasil e perdi (volto nisso mais tarde).

Cheguei então para meu segundo intercâmbio na Indonésia, um país que me surpreendeu desde o primeiro momento por sua alegria e pessoas muito cativantes. E eu fui cativado.

Trabalhava com um autor de best-sellers na Indonésia sobre liderança e descobri o quanto é apaixonante ajudar as pessoas fazendo o que gosta. Ajudando-as em projetos, fazendo-as descobrir e pensar fora da caixa em relação a empreendedorismo.

A vida em Bandung era muito, mas muito boa; uma das melhores cidades da Indonésia, um ótimo clima, ótimas pessoas, e a oportunidade de viver com uma família muçulmana dia após dia, tendo duas "irmãs", um "pai"e uma "mãe" indonésios. Um trabalho excepcional que me deu forças pra muito tempo da minha vida, observando como as pessoas são felizes aqui.

Uma coisa que levo da Indonésia é que, mesmo quando eles tem dificuldades financeiras, é difícil você ver um mendigo na rua. Provavelmente, você vai parar teu carro e virá alguém tocando violão pra você, tocando violino, fazendo mágicas. Eles não pedem o dinheiro, mas sim fazem algo para merecê-lo. E pelo que percebi, as pessoas se sentem mais inclinadas a dar dinheiro nesta possibilidade. E complementou o que tinha visto em Bangladesh: as possibilidades de ascenção social se iniciam sobre os esforços dos próprios necessitados, mas sem as oportunidades e o suporte necessário, estas pessoas se tornam reféns de um sistema maligno que ignora-as por mais que se esforcem.

E daí vem na minha opinião o maior aprendizado do meu intercâmbio. Todo mundo precisa de uma oportunidade. Eu tive muitas. Eu pude estudar num colégio particular, eu pude ir pra uma faculdade federal, terminar meu curso, fazer intercâmbios... mas se você não retribui estas oportunidades pra sociedade, você realimenta um sistema em que algumas pessoas nunca receberão oportunidades como esta. É como uma função em matemática: se você ganha mais oportunidades, deve também retribuir de acordo.

No meu intercâmbio, eu descobri os verdadeiros heróis da humanidade. Não aqueles que tem um uniforme com cueca por cima da roupa, que voam e lutam contra monstros gigantes. Mas aqueles que sofrem, erram, choram, tem medo, como nós; mas que a grandeza do que eles atingiram é tão absurda que nós efetivamente nos perguntamos se estas pessoas são somente seres humanos. A dúvida, a possibilidade de cogitar o absurdo, cria um incômodo em nós; eles vão mais longe, mas continuam vivendo as emoções humanas de derrota e problemas como cada um. E este incômodo nos leva a questionar nosso verdadeiro potencial: será que eu não posso ir mais longe? Qual a diferença entre eu e estas pessoas? Como eu faço para chegar mais longe?

E é isso que me moveu aqui. Eu conheci pessoas assim como Yunus e meu chefe, e vi que eles chegaram longe... e talvez eu não estivesse realmente sabendo qual o meu limite.

E aí, veio o segundo processo de eleição. Eu me esforcei como nunca, e vi mais claramente o tamanho do que eu gostaria de fazer, e independente do resultado, eu sabia que havia me esforçado como nunca. E assim o farei daqui pra frente nos próximos desafios... É como se meu coração batesse mais forte agora, revigorado pelos exemplos e ensinamentos que tive de culturas.

Na última parte da minha viagem tive o maior exemplo disto. Fui ao Vietnã no congresso da AIESEC na Ásia Pacífico (APXLDS). Quando você via as pessoas do Afeganistão e do Japão se esforçando pra mudar seus países, pra superar as dificuldades... eu ficava me perguntando de onde eles tiram força, e mais ainda que isso, afirmando pra mim mesmo que não ia tirar o pé do freio pra retribuir isso de jeito nenhum.

Não foi fácil pra estas pessoas, não é fácil pra você, nem pra mim. É tudo uma questão de transformar tuas oportunidades em algo relevante pra quem investiu em você.

Que venham os 2 dias de viagem. Que venha esta nova fase da minha vida. E fica o meu muito obrigado por todo mundo que participou desta experiência, que me deixou extremamente apaixonado por viver.

:)


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Mais um ano de vida!

Sempre que chega meu aniversário ou algo do tipo, tem gente que me fala que sou muito chato, que tenho uns pontos de vista muito loucos, que sou enjoado. É porque eu arrumei uma cisma com aniversário.

Muita gente vê e espera nos aniversários comemorar com felicidade, sorriso no rosto, sair, sei lá, ter um bom tempo. Para mim, o dia do seu aniversário é mais um simbolismo.

É a hora que você para pra refletir sobre tudo que aconteceu sobre um período pré-estabelecido de tempo (no caso, 365 dias). Ninguém pôs nos dez mandamentos da física comemorar aniversário, nem que 365 dias era o tempo em que você deveria receber presentes e parabéns. É um simbolismo. Um simbolismo que muita gente, a meu ver, não compreende, e passa sem perceber o que está acontecendo ao redor.

Eu me lembro de ter conversado com alguém sobre comunidades alternativas. Em algumas, elas não comemoram aniversário; comemoram sim, conquistas. Por exemplo: É muito mais valioso para uma criança receber uma festa depois do primeiro dia que ela dormiu sem chupeta, ou que foi para a aula e não chorou, do que uma festa por ano num dia pré estabelecido; para algumas pessoas, é muito mais valioso o dia em que você esquece o número de celular da sua ex-namorada, ou que você vai dormir sem chorar a perda de alguém querido. Significa que as feridas estão cicatrizando, que você está vencendo etapas e desafios, que está mudando. E o tempo é relativo pra cada um, o bem mais precioso que alguém pode ter; ele não volta mais, mas cada momento é eternizado pela memória de cada um. E isso é o que o faz tão esguio; ele está ali, mas quando você vê já passou. Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...

Já passei aniversários que não lembro, mas dias memoráveis em que levantei achando que seria mais um qualquer na minha vida e que tive 15 minutos que mudaram o curso de muita coisa. 15 minutos em que você recebe a notícia que vai ter um sobrinho, 15 minutos do lado de fora da sala de espera do hospital ouvindo sobre a morte do seu pai, 15 minutos em que você tem a última conversa com seu irmão antes de embarcar para 4 meses de viagem.

Por que estou falando isso tudo? Porque este é o dia oficial da minha reflexão. Eu estou comemorando mais um ano de vida ou menos um ano de vida? O que eu fiz de relevante durante estes 365 dias? O que eu vivi? O que eu não vou esquecer o resto da minha vida?

Este ano, acabaram-se vários ciclos marcantes da minha vida. Terminei minha faculdade. Aqueles quatro anos, que não sabia como iam terminar, a tensão de conseguir o emprego depois de formado, as saudades de quem conviveu contigo estes anos... para mim, esta (primeira?) faculdade terminou.

Acabou também meu ciclo na AIESEC em Juiz de Fora, no ano em que assumi a presidência da organização e também foi de grande valia para minha educação e formação como ser humano. E me deu a oportunidade de conhecer pessoas brilhantes.

Foi um ano em que viajei para o Peru, Índia, Grécia, Turquia, terminando em Bangladesh, a experiência mais desafiadora da minha vida. Foi provavelmente o ano em que mais chorei na minha vida.

Chorei de tristeza. Chorei a ausência do meu pai por mais um ano, chorei derrotas, chorei de saudades de quem amo, chorei pela impossibilidade de ajudar quem estava do meu lado, de ver pessoas sem oportunidade, de ver o quão pouco eu tenho feito aos mais necessitados.

Mas chorei de alegria. De ver meus amados crescendo, conquistando novos desafios, de receber um novo sobrinho, de ter minha família, amigos e namorada do lado, de ver novas possibilidades de ajudar quem precisa, de ter as oportunidades que tive e a gratidão que tenho de retribuir isso de alguma forma para a sociedade.

Este ano, eu comemoro mais um ano de vida. Foi provavelmente o ano que mais vivi na minha vida. Provavelmente o mais envolvente, o mais memorável, o período de 365 dias que gostaria de repetir a intensidade para sempre.

Na minha primeira hora desde vigésimo segundo ano, fomos a um acampamento com meu chefe e 50 alunos. Fizemos uma excursão noturna aos campos de chá. Você ficava com os olhos vendados, no meio da mais pura escuridão, sozinho, apoiando sua mão numa corda que guiava o caminho.

Foi provavelmente a sensação mais rejuvenescedora da minha vida. Não ter nada ao seu redor, na completa escuridão. E foi ali que eu percebi o que eu quero este ano. Pensei em cada momento que vivi nestes últimos dias. E vi que, aconteça o que acontecer, não vou esquecer esta sensação. A sensação de andar no escuro, no meio do nada, sem rumo, mas aproveitando cada momento desta caminhada. Porque quando você menos esperar, você já está voltando pra luz e aquele momento já passou. Aquela degustação da vida já se evaporou pelos seus dedos. E é assim que eu pretendo viver cada segundo.

Agradeço a Deus por mais um ano de vida. Principalmente por ter colocado duas pessoas tão únicas e boas como meus pais que tenho o privilégio de conviver e aprender. E espero que no próximo ano tenha mais coisa pra contar.

"I have been impressed with the urgency of doing. Knowing is not enough; we must apply. Being willing is not enough; we must do."

Leonardo da Vinci

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Conspiração universal pelo bem


Sim, existe uma conspiração universal pelo bem. É só a gente olhar com mais atenção ao nosso redor. E no caso a seguir, eu não tava preparado pra escutar tudo isso. Mas acho que estes são 15 minutos que marcam sua vida, e que vem da simplicidade mais sincera de uma conversa de bar.

A seguinte conversa aconteceu hoje, após um programa de rádio em que falamos durante uma hora sobre inspirar negócios na Indonésia. Falamos sobre a realidade do Brasil, dei meu ponto de vista e dividi com meu chefe o programa. A audiência foi de mais de 3000 pessoas. E depois ele foi me deixar em casa.


Léo: E aí chefe, tudo bom?

Victor: Tudo ótimo! E você?

Léo: Bão tamém! Então, o que você estudou?

Victor: Engenharia de software!

Léo: Ah, que bom! Você programa em que linguagens?

Victor: Ah, algumas... mais de 20.

Léo: Ah tá... e o que você faz no seu trabalho?

Victor: Eu iniciei minha própria empresa de software. Hoje, eu só coordeno, vou lá algumas vezes na semana. Meu foco tem sido outro.

Léo: Hmm... e qual tem sido?

Victor: Coordenar a escola que criei ano passado. É a primeira vez que recebemos estrangeiros como você pra dar aula, e também estamos expandindo.

Léo: E como você resolveu criar esta escola?

Victor: Eu tenho muito dinheiro hoje, uma ótima família, posso sair de férias 2 vezes por ano pra viajar, pude realizar meus sonhos. Mas eu queria dar a oportunidade pra outras pessoas. Se eu soubesse antes o que sei agora, se eu pudesse dividir este conhecimento com alguém, eu sinto que poderia inspirar outras pessoas a fazer o mesmo.


Léo: E quando você começou??

Victor: Há um ano atrás. São 3 níveis: 0, para conhecimento básico sobre empreendedorismo e inspiração para seu negócio. Temos mais ou menos 500 pessoas nesta fase, mas somente 60 ou 70 geralmente passam à próxima fase. Avaliamos o desempenho das pessoas em dois projetos, o caráter e integridade demonstrados baseado em feedback dos colegas e um quiz em que eles devem ter um aproveitamento maior que 75%. Em seguida, realizamos um final de semana de acampamento da escola, que por sinal vai ser agora dia 26 de fevereiro. No nível 1, partimos para mais conhecimento específico. Nível 2, todo o aparato técnico para a formação de empreendedores em cada área.

Léo: Quantos alunos são hoje?

Victor: Mais ou menos 800, mas no futuro devemos ficar apenas com metade. Neste último ano, tivemos mais de 1000 pessoas que saíram da escola.

Léo: Por que?

Victor: Seleção. Todo o trabalho que fazemos é voluntário, e precisamos de pessoas realmente afim de ajudar a escola e com o perfil empreendedor. Só continua no programa quem nós realmente acreditamos.

Léo: Peraí... eles não pagam nada pelo ensino?

Victor: Não. O que pedimos em troca é que os formandos do nível 2 retornem à escola para servirem como mentores durante um tempo, se possível, e que inspirem outras pessoas a continuarem o ciclo de empreendedores.

Léo: Mas se eles não pagam a fee, quem é que mantém a escola?

Victor: Eu e outros ex-alunos. Não temos staff, todos trabalham como voluntários; não temos professores, são todos mentores. Não é um ensino de mão única; queremos que nossos alunos nos ensinem também. Que possamos sentar numa roda e uns ajudando os outros, formando cooperativas, aproximando-os de realizar seus sonhos profissionais e de vida.

Léo: E quais atividades vocês promovem para preparar os empreendedores?

Victor: Temos empresas que se interessam em bancar alguns projetos. Sociedades daqui já se tornaram grandes. Temos seminários internacionais, campings, avaliações. Mas o mais importante é que consigamos aliar os resultados com alegria. Eu sou um homem feliz com minha vida, e parte disso vem do fato de gostar do que eu faço. Se você tem um propósito, se tem criatividade e ambição, por que você não se torna o próprio chefe? Eu busquei expandir meu negócio e acreditava na minha habilidade. Espero que com meu trabalho na USB Business School consiga dividir isto com outras pessoas.

Léo: Obrigado pela carona chefe! Meus parabéns pela iniciativa! É um prazer trabalhar contigo na USB!

Victor: Ok! Já te dei meu livro?

Léo: Não...

(Pega o livro no porta-malas, uma foto dele, com a estampa "best seller", 250.000 cópias vendidas, e o número oito na capa).



Victor: Aqui está!

Léo: Que ótimo! Sobre o que é?

Victor: Através da minha história, eu escrevi um pouco do que aprendi. E vi que existem 8 passos para atingir seus sonhos. São:

1. Do Not be Afraid to dream of becoming wealthy despite any difficult situation you are today.

2. The principle of working hard or nothing-2 in life.

3. Diligent saving for capital to do business / invest.

4. Save money, live in simplicity and delay the pleasure.

5. Never give up, because every obstacle in life will raise you to a better condition (no gold behind the stone)

6. Carefully select the investment / business (think long).

7. Always want to give the best service for the consumer / client.

8. Be a Loyal friend, help your friends when experiencing difficulties, because they will be there for you later.

Léo: E quem são estes depoimentos aqui atrás

Victor: É o presidente da Indonésia falando do livro.

Léo: Hmmm tá... Obrigado chefe! Nos vemos sábado no camping!

Victor: Tchau!

A USB Business School começou em 2008. Para saber mais, acesse www.usbschool.blogspot.com . Tá em bahasa, mas o google translator dá uma ajudinha pra quem quiser ler algo. O lema da escola é "the school of life".

Esta viagem está me ensinando muito mais do que eu acreditava. E, pelo jeito, estou aprendendo com as pessoas certas!

Fiquei muito emocionado conversando com meu chefe hoje. É estranho ver tudo que você acredita refletido em pessoas ali, na sua frente, há milhões de quilômetros de distância, educando, desenvolvendo e capacitando líderes para um futuro melhor.

O importante de qualquer viagem não é o que você lembra de colocar na bagagem de ida, mas sim o que você não esquece na viagem de volta!

:)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Eu preciso de óculos

Eu acordo às 9 da manhã, em pleno domingo, para ir trabalhar.

Eu não tenho chuveiro quente em casa; aqui em casa, as opções são um banho frio ou um quente de caneca.

Eu moro com 20 pessoas divididas em 2 flats.

Eu vou para o trabalho em um tuk tuk apertado com mais 3 pessoas.

Bangladesh é o país com a maior densidade demográfica do mundo. Todas as vezes que saímos na rua, somos cercados de curiosos, pessoas que vem falar conosco.

A internet em casa é muito ruim. Não consigo falar pelo skype com minha família.

É isso que eu consigo ver. Mas... será que eu não preciso de óculos?

Eu acordo todos os dias às 9 da manhã. Meu roomate é de El Salvador, antes era da Índia. Conversamos, subo para tomar café, e me preparo para mais um dia trabalhando no Grameen. Chego todos os dias no trabalho e me sento para pesquisar, ter reuniões, saber tudo que eu quero saber sobre negócios sociais e microcrédito. Sem a menor cerimônia, é só chegar e perguntar, pesquisar, acessar os arquivos de plano de negócios, metas, orçamento. E tudo que dou em troca é minha opinião.

Minha análise do Grameen, pontos para atenção, como se fosse uma consultoria. E uma instituição que ganhou o Nobel da paz abrir suas portas para estudantes, escancarar suas qualidades e defeitos e tirar algum tempo para nos escutar... eu valorizo demais. Mesmo que seja no domingo de manhã, já que o final de semana em Bangladesh é sexta e sábado, vale a pena acordar.

Eu não tenho chuveiro quente em casa; aqui em casa, as opções são um banho frio ou um quente de caneca. Isso me fez perceber o quanto eu abuso do consumo de água em casa, me fez valorizar aquela gotinha de água quente que cai do céu, e me fez ter mais paciência até nas questões triviais, que muitas vezes não paramos para pensar. O banheiro é de estilo hindu, com um buraco no chão. O primeiro choque é grande. Se é melhor ou pior: cada um com suas conclusões. Eu acho simplesmente diferente. E cada dia aqui é feito de pequenas conquistas. Ir ao supermercado, tomar um ônibus, ir a uma mesquita. A rotina é plena de oportunidades e quebras de paradigma; meu hobbie é andar como um bangladeshi pelas ruas e observar o estilo de vida destas pessoas, que tanto tem a ensinar e aprender conosco.

Por exemplo, o vício por bebida é quase nulo; a maior parte da população se esforça para adotar os hábitos vegetarianos; o índice de criminalidade é baixo se comparado à alguns locais do meu próprio país; o uso de drogas é severamente punido.

Eu moro com 20 pessoas divididas em 2 flats. São onze nacionalidades diferentes: Holanda, EUA, China, Taiwan, El Salvador, Brasil, Japão, Coréia do Sul, Austrália, Alemanha e Itália. Todos os dias, eu tenho a oportunidade de trocar ideias com estas pessoas sobre os mais diferentes temas: a ascenção da China, questões políticas (como a relação Taiwan e China, as Coréias). Tudo isso a distância de um braço, o suficiente para cutucar o cara do lado e perguntar. Se é muita gente? Sim. Quase nunca estou sozinho. Mas pra um intercâmbio cultural, não existe nada melhor do que a certeza de interação com pessoas extremamente diferentes.

Eu vou para o trabalho em um tuk tuk apertado com mais 3 pessoas. Aprendi a falar o básico de bengali, e alguns falam inglês; negociamos, conversamos, tiramos fotos; vemos muitos sorrisos dos motoristas. Nos apertamos no tuk tuk, mas toda manhã enfrentamos a dura realidade que muitas teorias de sala de aula não conseguem responder. Este foi o mote da criação do Grameen Bank, aliás. O fundador, Muhamad Yunus, estava como professor da faculdade de Economia, quando olhou para a janela e viu gente pedindo esmola. Num país recentemente criado (1978 sua independência), ele percebeu o quanto suas teorias viviam longe daquela realidade, ou como poderiam ser melhor utilizadas para combater os graves problemas de pobreza.

Se levantou, então, e criou uma abordagem prática: uma visita de campo a Jobra, perto de Chittagong, sua cidade natal, e emprestou do próprio bolso 27 dólares para um grupo de camponeses. Se dava início o Grameen Bank, que partia do seguinte princípio: "Poverty is the absence of all human rights. The frustrations, hostility and anger generated by abject poverty cannot sustain peace in any society. For building stable peace we must find ways to provide opportunities for people to live decent lives".

Bangladesh é o país com a maior densidade demográfica do mundo. Todas as vezes que saímos na rua, somos cercados de curiosos, pessoas que vem falar conosco. E isso é fantástico: nunca havia visitado um lugar que preserva um grande ar de inocência sobre os turistas. Na maioria das vezes, quando você não é local, você pode enfrentar problemas de gente querendo tirar vantagem de você (pagar mais, etc) ou gente tão acostumada a turistas que simplesmente te ignoram.

Em Bangladesh, as pessoas querem tirar fotos com você, conversar, e sempre estão com um sorriso na cara prontas a te ajudar. Não vou falar que existe gente mal intencionada não, mas sempre que estes mundos batem de frente, o número de pessoas bem intencionadas é bem maior do que quem não quer te ajudar.

Esta onda de vibrações é contagiante e torna um país que não é rota comum de turismo especial à sua maneira. E ver um bangladeshi todo feliz mostrando com orgulho o lugar onde se constroem os navios, ou andando numa mini canoa, pra mim tem muito mais valor.

A internet em casa é muito ruim. Não consigo falar pelo skype com minha família. Me fez perceber o quanto o meu tempo é importante. Nos minutos que tenho de boa conexão, é a hora que tenho para conversar e ser o mais relevante possível no que falar; trocar ideias, responder emails, tudo passa num segundo; e me mostra o quão patética era a minha atitude de ter minha mãe do lado e continuar no msn, conversando.

Muitas vezes as respostas mais simples estão na nossa frente, mas o nosso cérebro não consegue processar tamanha a indiferença com que tratamos os fatos.

Conversando com o cara do lado, descobri coisas fantásticas; é como a macieira e Isaac Newton. Às vezes, nas coisas mais simples estão as respostas mais complexas. Estavamos conversando aqui sobre um vencedor do prêmio Mário Covas, e a visão que me disseram era bem simples: "Fui a um bebedouro de uma escola pública, e percebi o desperdício de água. Resolvi diminui-lo".

Não se sabe o que é verdade, o que é lenda na história, mas no fim das contas faz sentido. Bill Gates também falava simplesmente que "Eu tive uma ideia. Começar a primeira empresa de software do mundo".

Complementando o post anterior, às vezes a gente ajusta o nosso foco pra ver tão longe que acaba não percebendo o que está na sua frente.

É. Eu preciso de óculos.

"Se eu puder ser útil a outro ser humano, mesmo que por um dia, já seria grande coisa. Seria melhor que todos os grandes pensamentos que eu poderia ter na universidade"

Muhamad Yunus

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O simples gosto pela vida

E lá se vai mais de um mês.

Chegar aqui em Bangladesh não foi fácil. Me tomou dez dias. Londres, Doha, Nova Déli (merece um post a parte), Calcutá, Dhaka. Foi avião, trem, ônibus, problemas com visto, fronteiras. Mas o que importa é que tudo deu certo e comecei a trabalhar no Grameen Bank.

Mas o que eu quero falar agora é bem pessoal. É o que aconteceu comigo nestas 3 semanas de intercâmbio em mudanças internas.

O trabalho do Grameen Bank foi um susto para mim. Obviamente, tinha lido os livros, aprendido superficialmente sobre microcrédito. Mas ver tudo funcionando, visitar comunidades e pessoas que efetivamente tiveram suas vidas mudadas foi algo além do que eu esperava.

Um pouco de wikipedia para explicar o Grameen Bank:

O Grameen Bank é o primeiro banco do mundo especializado em microcrédito e foi concebido pelo professor bengalês Muhammad Yunus em 1976, visando erradicar a pobreza no mundo. Opera como uma empresa privada auto-sustentável e gerou lucros em quase todas os anos de sua operação, exceto no ano de sua fundação e em 1991 e 1992.

Adquiriu formalmente o status de Banco em 1983, através de uma lei especial promulgada para sua criação.

O Grameen Bank ganhou o Nobel da Paz do ano de 2006 juntamente com seu fundador.

Localizado em Bangladesh, já conta com 2.185 agências e, desde sua fundação, emprestou o equivalente a 5,72 bilhões de dólares para 6,61 milhões de mutuários, 97% dos quais são mulheres. Atende a 71.371 vilarejos e possui um quadro de 18.795 funcionários remunerados. Sua taxa de inadimplência é baixíssima, de fazer inveja aos mais bem administrados Bancos comerciais do mundo: apenas 1,15%, o que significa que o Grameen Bank recebe de volta 98,85% dos empréstimos que concede.

Atualmente existem mais de 2 dúzias de entidades que trabalham juntamente com o banco, dentre as quais se destaca a Grameen Foundation , com sede em Washington.


Meus desafios aqui são:

- Entender como funciona a estrutura do Grameen Bank para garantir que o sistema funcione sustentavelmente
- Como o sistema se protege de corrupção e outros problemas comuns
- Como se garante a sustentabilidade de liderança no projeto
- Como o banco pioneiro em negócios sociais trata o tema

O que mudou em mim nestas 3 semanas?
Eu aprendi nestas o poder que uma oportunidade pode dar a alguém.
Vi pessoas que não tinham nada, que perderam o marido, não tinham o que fazer, mas que através do microcrédito conseguiram melhores condições para sua família; vi gente que morava no que hoje é um estábulo para três vacas; vi gente que não terminou a primeira série dizer com orgulho que um filho estava no exterior, o outro terminando a faculdade e iria dar a festa de casamento do terceiro. Tudo isso porque pessoas precisavam de oportunidade.

Vivemos num sistema de garantias dos bancos. Eles obrigam que você mostre sua condição financeira, seus rendimentos, que alguém assine por você. Aí sim você se torna confiável para crédito. No Grameen Bank, as operações acontecem na própria comunidade. As referências são seus vizinhos, a chefe da sua vila, seus amigos que moram próximos na vila. E como se consegue uma taxa de inadimplência menor no Grameen Bank?

Explicarei melhor o sistema em outro post, mas a verdade é que o trabalho é um tapa na cara de quem não acredita em projetos sociais. Em real mudança. Ela existe, é palpável, e é atingível.

Eu percebi então que a minha própria existência poderia ser pautada para ideais mais nobres. Poderia expandir meus sonhos, minhas ideias, para que pudesse ajudar mais gente ainda. E ter isso como um objetivo vivo na minha carreira. Não somente como algo complementar, mas como algo que estivesse na essência do que eu faço, como estas pessoas aqui se conectam.

É muito fácil se motivar num trabalho onde você vê seu impacto acontecendo. É muito bom você ver que o seu esforço de trabalho serve para prover as coisas simples da vida, o que de fato traz felicidade.

Numa visita a uma vila, enquanto eu andava, milhões de crianças nos seguiam. Conversávamos em bengali, jogamos badminton, brincamos. Na hora de ir embora, um dos garotos correu até um campo afastado de plantações, que na área rural se expandem até onde não podemos mais ver. Enquanto eu caminhava até a van, ele me estendeu a mão.

Dentro dela, uma pequena cenoura. Arrancada às pressas. Ele simplesmente apontou para os campos, me entregou e me abraçou. Como alguém no meio da área rural de Bangladesh, sem me falar uma palavra, numa área carente, pode ter a sensibilidade de correr até o mais longíquo campo pra me dar meia cenoura e um abraço?

Pessoas assim precisam de oportunidade. O fundador do Grameen Bank e também ganhador do Nobel da Paz Muhamad Yunus diz que: Definitivamente não é a falta de habilidades que torna pobres as pessoas pobres. O Grameen Bank acredita que a pobreza não é criada pelos pobres, ela é criada pelas instituições e políticas que o cercam. Para eliminar a pobreza, tudo o que temos de fazer é implementar as mudanças apropriadas nas instituições e políticas, e/ou criar novas instituições e políticas.

Situações como esta me fizeram refletir se eu realmente estava pensando grande. Se ao ver tanta coisa mudar na minha frente, por obra e dedicação de tantas vidas que buscaram mudar esta percepção, esta não era a minha vez.

Acabei de assistir into the wild. Na minha cabeça, fica mais claro a cada dia que o gosto da vida está nas coisas mais simples. A vida em Bangladesh é feita de pequenas conquistas e trocas de experiências que tornam a minha própria vivência cada dia mais relevante. É uma nova palavra em bengali, uma conversa sobre política num flat com mais de 10 nacionalidades, uma reflexão ou uma troca de experiências de vida que o faça refletir.

Conheci um sul coreano aqui. Ele passou os últimos 2 anos viajando. Trabalhou de voluntariado no Quênia, no Reino Unido, na França, Bangladesh e vai agora para a Malásia. E vi muita gente se empenhando também em desenvolvimento de negócios sociais. Foi na verdade acendar a luz na minha cabeça para deixar ideias de lado e efetivamente trabalhá-las!

Pra mim, Bangladesh foi um sopro de força. Não de otimismo, não de esperança; mas sim de amadurecer, ver que tudo não funcionará apenas na base da boa vontade, e dar forma aos sonhos que tenho. Bangladesh não foi apenas uma escolha; é um ponto intrínseco da minha caminhada de vida. E provavelmente, o que mais me fez amadurecer desde que perdi meu pai.

Espero que vocês não se desapontem com o primeiro post daqui ser tão tarde, e tão pessoal. Nós estamos nos organizando aqui em Bangladesh para que todos os trainees dêem sua contribuição em conjunto quanto a tudo que estamos aprendendo sobre o sistema e vamos dividir em breve. Quando tiver uma conexão melhor vou postar fotos pra ilustrar :) .

Espero que depois deste post você também se sinta revigorado pra agir em busca de uma meta. Porque as suas metas são sonhos com prazo para realização!

Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
Robert Frost