domingo, 17 de outubro de 2010

Revendo um velho amigo

- Fala Léo! Quanto tempo cara!

- Iaí! Po, tempasso mesmo!

- Como é que tão as coisas?

- Cara, melhor impossível!

- E a família, como vai?

- Bom, está tudo bem! Na verdade, melhor impossível. Em julho, ganhei mais um sobrinho! O nome dele é Pablo, filho da minha irmã Aline!

- Que legal! Vai se juntar ao outro... qual o nome mesmo?

- Cássio, filho do meu irmão Cassiano. Fez um ano em agosto, nem vi passar direito! Tanta coisa mudou neste tempo...

- E aí? Como anda a faculdade?

- Então, to terminando minha monografia! O tema é Empreendedorismo Social aplicado à Responsabilidade Social Corporativa.

- Anh?

- O meu objetivo é provar para empresas que responsabilidade social vai além de não utilizar copos descartáveis e separar o lixo; é mostrar como um investimento nos verdadeiros propulsores de mudança social são um benefício para a empresa, através do seu posicionamento e do retorno intangível que existe na sua imagem. Pretendo trabalhar com programas de Negócios Sociais, baseado na obra de Muhamad Yunus, ganhador do Nobel da Paz em 2006 com seu projeto no Grameen Bank (Bangladesh) para microcrédito de comunidades carentes; e analisar uma série de outros estudos de caso que provem como RSC (CSR, em inglês) pode ser aplicada para formar uma sociedade melhor.

- Só... mas como você vai fazer pra convencer uma empresa disso?

- O meu principal foco vai ser trabalhar com uma empresa indiana, chamada Tata, que concomitantemente com seu país apresentou um grande crescimento e é símbolo do nacionalismo e do exuberante desempenho de seu país no cenário internacional; a empresa conseguiu aliar um grande investimento em empreendedorismo social, educação e financiamento de iniciativas que levassem mais benefícios à sua população com um grande retorno financeiro e de imagem que só mesmo estando lá para ver.

- Como você sabe?

- Bom, em agosto deste ano, embarquei para a Índia, onde fiz parte de uma delegação de 13 pessoas que representavam a AIESEC no Brasil, e fiquei lá durante 3 semanas, 10 dias de congresso e outras conhecendo a realidade.

- AIZEK?

- Então, AIESEC é a organização que eu estou trabalhando pelo terceiro ano seguido; agora o último no nível local, em Juiz de Fora, fechando minha gestão de 2010 como presidente do comitê local da cidade. Tem sido uma oportunidade muito gratificante e ao longo do ano me deu a oportunidade de conhecer gente do mundo todo e de aprender mais do que eu imaginava.

- Conta um pouco mais aí.

- Nestes 10 meses como presidente, aprendi bastante sobre o que quero fazer da vida. Pra começar, percebi que quero ser relevante de alguma forma para as pessoas. Não quero um trabalho que só me dê meu sustento, que eu não veja o impacto do que eu estou fazendo; quero ver pessoas tendo sua vida facilitada pelo que eu faço, e devolver ao mundo grande parte do investimento que foi feito em mim (escola particular, intercâmbio, universidade federal, oportunidade de me formar). Acho que fica claro para mim que não existe nada melhor que trabalhar com capacitação e desenvolvimento de pessoas, porque nada é tão enriquecedor do que aprender mais a cada dia, quebrar os seus mais diversos paradigmas, ter que se adaptar, e ter a certeza que você é relevante.

Nos últimos dias tenho refletido bastante qual é minha relevância de fato. Vendo o resgate dos 33 mineiros lá no Chile, eu parei pra pensar o que realmente vale a pena na vida... se eu passasse dois meses em um poço, quem estaria lá em cima pra me receber depois? Porque minha vida seria tão importante e relevante para o mundo? Será que a sociedade sentiria minha falta?
Estudando pra minha monografia, vi que o ganhador do Nobel da paz em 2006 já ajudou através de sua iniciativa mais de 20 milhões de pessoas, e inspirou outras incontáveis através de seus livros... e eu? Como poderia tornar minha contribuição mais ativa ao mundo?

Eu fiz minha escolha, e estou me esforçando agora para garantir que tenha um trabalho que me dê esta possibilidade.

- Doideira hein! Mas você não pensa em ganhar dinheiro?

- Não existe uma dicotomia entre lucrar e ter um trabalho impactante que mude a vida das pessoas; empreendedorismo social também pode ser um bom negócio, e na maioria das vezes é. O problema é que muita gente só pensa no lado assistencialista, quando também devem haver bons gestores e pessoas capacitadas para gerir estes projetos, caso contrário, eles permanecem no campo das boas ideias, péssimas execuções. E já dizia Abraham Lincoln, "Whatever you are, be a good one". A minha intenção, mais do que ganhar dinheiro, é ser bom no que faço e relevante para alguém.

- E depois de formar?

- Bom, em dezembro embarco para fazer intercâmbio.

- Pra que mais um?

- Bem, o fato é que o intercâmbio que fiz anteriormente não supriu as minhas necessidades profissionais; foi bom para aprender outra língua, mas o que eu trabalhei não tem nenhuma relação com a carreira que busco agora. A minha experiência internacional contará sim na hora de um emprego, mas o que eu fiz também conta bastante, e trabalhar numa escola de ski não está entre os meus objetivos pro futuro. Daí meu interesse em suprir esta lacuna que não consegui anteriormente. Por isso, queria um intercâmbio que me desse uma experiência de trabalho relevante, ou um intercâmbio que realmente fizesse a diferença do porque eu estava viajando, com a certeza de que contaria com um acompanhamento forte.

- E agora? Vai pra onde?

- Farei dois: Bangladesh e Indonésia.

- Bang o q?

- Bangladesh, na Ásia, ao lado da Índia, perto do Butão e do Nepal (sem trocadilhos). Indonésia, Ásia, perto da Austrália.

- Não um tinha um lugar melhor não?

- Depende do seu conceito de lugar melhor. Se você prefere passar a sua vida numa bolha ignorando as disparidades do mundo e disposto a não vê-las, realmente existem lugares melhores; não penso que haja países "melhores" que outros, o que existe sim são diferenças (abissais) nos problemas enfrentados. Mas daí a julgar algum país e usar o adjetivo melhor, eu considero errado; talvez países com problemas mais graves, que ponham em risco a vida e a dignidade humana poderiam ser chamados de países com mais desafios, mas não "piores", isso seria subjulgar uma cultura/potencial humano e estabelecer uma predestinação eterna para este local.

A minha viagem à Índia me fez perceber o quanto eu devo transformar problemas em oportunidades de melhoria; choques culturais são ótimos para te fazer refletir sobre o que é realmente essencial para a felicidade, para garantir a qualidade de vida de alguém. Eu espero no meu intercâmbio fazer a diferença, trabalhando com algo que vá me agregar conhecimento pro futuro e conhecendo uma nova realidade. Os lugares não são piores ou melhores, simplesmente diferentes...

- Tá doido rapaz...

- É, de vez em quando eu também penso isso. Mas prefiro acreditar que existem mais de 200 países ao redor do mundo, e cada um tem seus pontos positivos e negativos. Não tenho medo de enfrentar choques, de ter que me adaptar a outro lugar. De fato, as situações da minha vida em que eu tive que mudar foram as que me fizeram amadurecer. "Não existe melhoria em toda mudança, mas certamente não existe melhoria sem mudança". Espero ter serenidade para perceber e respeitar que cada sociedade tem suas necessidades e tirar o melhor de cada experiência.

- Você tá mudado!

- É, este ano me fez amadurecer. Estou me formando, ano que vem termino minha pós, e estou muito disposto a aprender ao máximo até entrar de fato no mercado. Espero que acumulando experiências relevantes e tendo humildade para aprender cada dia mais, garanta uma base para completar o meu propósito de vida: impactar positivamente na vida das pessoas.

- Ih, tá dando minha hora aqui...

- Rapaz, foi muito bom te ver! Manda um abraço pro pessoal!

- Cara, só uma última pergunta: você é feliz?

- Me considero hoje extremamente realizado com o que faço e uma pessoa bem estável em relação à suas emoções. Pra mim, o que aprendi durante o ano teve um preço incomensurável, e mais do que isso, me deixa hoje com a seguinte certeza: eu posso não concordar com você, eu posso achar o que for da sua personalidade, da sua relação com família, modo como encara a vida... mas uma coisa é certa: eu vou te respeitar, porque certamente o meu modo de ver o mundo não é lei divina, é mais uma visão no meio de 6,5 bilhões de pessoas na Terra, 230 países, sem falar das diferenças de religiões, crenças, governos... e me esforço cada dia mais para não julgar ou cometer o erro de ser intolerante.

:)

Acho que deu pra explicar um pouco dos últimos meses! Quando estiver mais livre posto mais... espero que vocês gostem!

PS: Este texto não é uma crítica a nada, nem a ninguém! É meu simples ponto de vista, meus objetivos, meus sonhos!