terça-feira, 5 de janeiro de 2010

E eu to voltando pra casa!

Férias na praia, reveillon em copacabana, e muita leitura pra preencher a cabeça!

Andei lendo uma série de livros, como principais 2012, a biografia do obama e os sete hábitos das pessoas mais eficientes.
Neste último ano, me confrontei com uma política interna de me exigir muito. Correr atrás ao máximo, sacrificar minha vida pessoal. Tudo começa lá nos EUA.


Em dezembro do ano passado, embarquei para uma aventura em South Lake Tahoe, California, EUA. Minha primeira experiência no exterior de intercâmbio e um emprego nada animador: Tent Coordinator. Parece bonito? É, só parece. Passava o dia cuidando do equipamento de Ski de crianças de 7 a 12 anos, chamados explorers! Foi uma bela lição de vida sobre subordinação, e aprendendo uma diferente cultura profissional e pessoas extremamente diferentes. E peguei uma das piores temporadas para ganhar dinheiro. E obviamente, passei um aperto. Mas nunca desanimei, pois via amigos ao meu lado sendo demitidos e em situação muito pior.
Então comecei a economizar, e a aprender a ser resiliente. Todos os dias, eu buscava comer o almoço que sobrava das crianças que trabalhava. Era normal, os instrutores tinham este direito, e se todos comessem, eu podia comer!
E começaram os problemas. Tinham instrutores que não me deixavam comer, que me zoavam, tinha chefes que me criticavam e que preferiam jogar a comida fora a vê-la no meu prato. Não que eu não tivesse condições de comprar minha comida, mas já havia exigido tanto esforço dos meus pais que não queria contar com mais nenhum centavo deles. Foi aí que aprendi: se eu não trabalhar por mim mesmo, ninguém vai trabalhar por mim. E voltei para o Brasil com este sentimento.
Voltei assumindo uma liderança na AIESEC, que nunca tinha vivido anteriormente; conseguindo um estágio e com minha faculdade. E lá estava eu vivendo. Passava o dia todo longe de casa, estudando ou trabalhando, e me dedicava plenamente ao meu trabalho. E sendo que eu já não sou um exímio gestor de tempo, duas semanas depois de voltar recebo uma mensagem no celular de minha mãe: meu filho, você já voltou dos EUA?
Aquilo realmente mexeu comigo. Passei a dedicar todos os dias pra pelo menos almoçar com minha família. E mal sabia eu o quanto isso iria mudar minha vida.
Pra ser sincero, meus pais nunca aprovaram meu trabalho voluntário. Eu era muito desesperado, e não sabia lidar com os problemas. E gastava muito tempo para fazer muito menos do que faço hoje. E esta sempre foi minha grande luta dentro de casa: fazer com que aceitassem este trabalho e me apoiassem.
No dia 13 de maio de 2009, logo após a CONADE, conferência da AIESEC, fui almoçar em minha casa. Era uma quarta-feira. Meu pai não havia chegado do trabalho ainda. Foi quando eu escutei a porta abrindo. Eu sabia que era ele, pelos passos cansados e já não tão vigorosos quanto antes. Foi então que algo cresceu no meu coração. Eu senti uma vontade imensa de dar um abraço no meu velho. Me levantei, falei com o pessoal que estava na mesa: eu vou receber meu pai como ele deve. E dei um forte abraço, perguntei como havia sido seu dia, como ele estava passando. Ele sorriu, cansado, e sentou à mesa. Foi então que comecei a falar da conferência, de tudo que estava aprendendo, do que estava projetando pro meu futuro. E vi os olhos dele brilharem. O homem que sempre quis um diplomata, me aprovou. Eu fui guardar a sobremesa e olhei de soslaio para a mesa e o vi comentar com minha mãe:"e não é que este negócio dá futuro?". Fui embora realizado, e lhe dei um abraço, voltei para a faculdade.
No dia seguinte acordei, ele já tinha saído para um de seus trabalhos voluntários: cuidar da fundação espírita joão de freitas, onde ele atuava cuidando dos idosos da instituição. Fui ao trabalho, tive um dos melhores dias (assinei três contratos), e voltei para casa a noite. Tal foi minha surpresa com minha mãe correndo para o carro dizendo que meu pai estava passando mal. Não hesitei, corri, entramos em alta velocidade e fomos ao hospital. Já não tinha mais jeito. Como se toma o doce de uma criança, a referência de homem na minha vida se foi.
E não tinha reação. Quando escutei o médico, eu só pensei em abraçar minha mãe e no que eu falaria para meu irmão quando voltasse pra casa. E foi o momento mais difícil da minha vida: sentar no sofá ao lado do meu irmão pra explicar o que havia acontecido com o pai dele. E naquele momento, vieram na minha cabeça o meu comportamento nos últimos tempos e como eu queria levar minha vida dali em diante. Eu também era pai agora, eu tinha uma mulher pra apoiar, e tinha uma família. E tudo aquilo que aprendi me pareceu tão útil agora, porque eu tinha que garantir que ia trabalhar para meu futuro. E ao mesmo tempo, tinha que viver!
E foi o ano mais desafiante da minha vida. Grandes resultados no trabalho, grandes desafios familiares, grande crescimento. E isso me dá forças pra acreditar que é possível, sim, trabalhar e ter uma vida pessoal equilibrada.
A lição que ficou para mim de 2009? Se este ano não me derrubou, eu não vou desistir nunca mais. E que me carimbem de sonhador, romântico, porque é isso que me dá forças pra levantar a cada dia da minha vida.
E sou confrontado com duas espécies de experiências: um livro que comprei no sebo diz: "Como ganhar tempo - otimizando a sua vida". Um explicativo sobre como tornar sua vida mais rápida e perder menos tempo com coisas menos importantes. Deixei ali na minha estante, já ia começar a ler. E na antiga cômoda do meu pai, encontro um livrinho interessante. "Perca tempo: a vida acontece nas pequenas coisas". Eu olho para o meu livro, recém-comprado no sebo, e não tenho dúvidas: fica para a próxima!
E passo uma semana na praia conversando com minha família, vou ao rio e escuto as histórias da amigas da minha mãe, que já viveram tanto, vejo os fogos do ano novo... e fica em mim a certeza. O ano passou, eu fui a vários lugares, aprendi muita coisa, mas quando eu paro pra refletir eu percebo a minha metáfora.


Randy pausch diz que na vida, tudo se aprende por head fakes. A aula de matemática, por exemplo, não quer te ensinar a simples ação de somar ou multiplicar. Quer na verdade instigá-lo a uma conexão lógica de processos e operações que estimule o seu cérebro.
A minha headfake é cada vez que eu saio de casa. Não é simplesmente o momento da minha viagem. Não é o congresso que eu busco. Não é o momento em que viajei com meu pai pela última vez. Mas sim o que eu trago de volta pra minha casa, o que fica comigo. A minha bagagem.
É a minha maneira de relacionar minhas experiências com minha essência.
E ter a certeza de que cada uma destas viagens no seu tempo criou o Léo que escreve aqui hoje!
E eu to voltando pra casa, outra vez!

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