quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Coexistir

Conexões lógicas são uma arte exímia. Quando bem feitas, conseguem criar uma rede infinita de sabedoria e de genialidade que explica o inexplicável e explora os detalhes que ninguém consegue ver. Exemplo disso é Sherlock Holmes. Não estou falando isso só porque vi o filme, mas sim porque acompanhei toda a obra e sempre me fascinou a facilidade com que detalhes banais por vezes se tornavam essenciais para a captura ou não de um criminoso.

A lógica nos dá a salvação dos pensadores, daqueles que buscam compreender todos os fatos racionalmente. E é um narcotizante para a nossa mente. O único problema é que a vida em sociedade não existe somente através da lógica, do pensamento, mas sim das interações. E aí começam os problemas e termina o chão.

Inteligência sentimental, interação social e competências em comunidade são o que tornam a teoria distante da prática. O mundo da lógica é o mundo digital, o mundo virtual, o mundo dos avatares. É quando nós controlamos os nossos sentimentos para controlar um corpo estranho, muitas vezes a nós mesmos.

Não é quem você é, mas o que você é. Por muitas vezes, na vida somos obrigados a assumir o papel do avatar. Hoje, você precisa reformular seu orkut para as empresas. Você precisa verificar suas mensagens antes de mandar um email, revisar cada texto que publica. Porque você nessa realidade é um avatar. Você se imagina em terceira pessoa, se vê como os outros te veriam.

É errado? Não sou eu quem vou questionar. Diferentes valores da sociedade tornam a interação de local para local diferente. Por exemplo, para nós não é comum um prostíbulo no meio da cidade. Em Amsterdã, é permitido. Será que o seu avatar tem a mesma cor desta outra pessoa? Será que os dois falam a mesma língua? A lógica é desconexa quando tratamos os diferentes hábitos de cada ambiente. Aí você me pergunta: Por que você está escrevendo isto?

Bom, no fim das contas, todos nós somos tão fragéis como o protagonista do filme que controla seu avatar. No final das contas, podemos ser fortes, grandes caçadores no mundo virtual, mas as fraquezas, as incertezas e as dificuldades nos trazem de volta ao mundo real de cadeira de rodas. No fim das contas, o papel que representamos não é o que somos. E por isso, somos levados todos os dias a desafiar a lógica. A quebrar as correntes, mudar paradigmas. Tudo isso acontece porque podemos.

Ser um Sherlock Holmes, um lógico, visionário, deve ser fantástico. Mas ele não deixa de ser um avatar, porque não mostra suas fraquezas. É vencedor aquele que tem a sua alma o mais próximo possível do seu corpo. Isso é real. Tentar vencer, crescer a cada derrota, e ter orgulho de suas cicatrizes de guerra. Porque a sua alma sempre vai ser mais importante que o seu avatar. E quem tem essência não se curva ao seu avatar. Simplesmente coexiste.

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