quarta-feira, 30 de março de 2011

Solidariedade é uma função constante

110 dias.

110 dias das experiências que vivi e que nenhum plano que eu tinha na minha infância podia imaginar.

Eu não imaginava nunca que iria fazer um intercâmbio em Bangladesh nem na Indonésia; que iria ao Vietnã e à Índia. E ainda assim, eu vivi tudo isso. Por que?

Tudo começa numa salinha de entrevistas em 2008, abril, que me fez entrar na AIESEC, mas a razão está presente há muito mais tempo. É um sentimento que brota no teu peito de você olhar pra trás e perceber que tudo se encaixou do melhor modo... e hoje olhando pra trás, como minhas esta experiência de intercâmbio me modificou?

Primeiro Bangladesh. Uma oportunidade única de trabalhar com o Grameen Bank, descobrindo uma das organizações mais pioneiras e revolucionárias do pragmático sistema capitalista, voltada para ajudar os pobres. Négocio social ainda é um óasis no deserto, mas vem crescendo com muita força e pode ser fundamental para a ascenção social nos próximos anos. E o banco vencedor do prêmio nobel da paz em 2006 não deixa de servir de inspiração pros próximos empreendedores do ramo.

Para mim não foi diferente. Cresci demais aprendendo a viver num país muçulmano, costumes extremamente diferentes, e que me fizeram valorizar mais cada aspecto cultural. Por exemplo, tinha dias em que simplesmente me vestia como um bengali e ia caminhar pela cidade. Para sentir o intercâmbio, para observar, e para respirar a experiência. Pra mim que já tinha feito um intercâmbio anteriormente, a diferença desta vez foi assustadora; mas assustadora porque excedeu minhas expectativas de aprendizado.

Exemplos: a disciplina dos muçulmanos em relação a seus rituais; o modo como as relações sociais afetam os objetivos da sociedade a longo prazo, como por exemplo na pressão familiar por casamento; até a ausência de alcóol em locais públicos é uma coisa que diferencia o local. Além disso, Bangladesh é o país com a maior densidade demográfica do mundo, e vive situações complicadas em relação ao governo, que inclusive levaram à expulsão de Muhammad Yunus do cargo de Chairman do Grameen Bank (voltarei nisso mais tarde). Portanto, um país muito necessitado, mas cheio de potencial humano pra crescer e com algumas práticas em microcrédito de dar inveja às grandes instituições financeiras.

Bangladesh foi também quando vivi num flat com mais de 20 pessoas de diferentes nacionalidades. Convivendo com eles, discutindo sobre o futuro de nossos países, tentando extrair o máximo de conteúdo relevante das nossas conversas, coisa que não fiz muito no meu primeiro intercâmbio; o perfil das pessoas interessadas também me ajudou bastante, porque todos estavam muito afim de trabalhar e aprender com o Grameen Bank. Então, foi um tempo de grandes amizades.

Foi também em Bangladesh que vivi isolado numa vila para estudar os que tomaram empréstimos do Grameen Bank; e onde me apliquei para a diretoria da AIESEC no Brasil e perdi (volto nisso mais tarde).

Cheguei então para meu segundo intercâmbio na Indonésia, um país que me surpreendeu desde o primeiro momento por sua alegria e pessoas muito cativantes. E eu fui cativado.

Trabalhava com um autor de best-sellers na Indonésia sobre liderança e descobri o quanto é apaixonante ajudar as pessoas fazendo o que gosta. Ajudando-as em projetos, fazendo-as descobrir e pensar fora da caixa em relação a empreendedorismo.

A vida em Bandung era muito, mas muito boa; uma das melhores cidades da Indonésia, um ótimo clima, ótimas pessoas, e a oportunidade de viver com uma família muçulmana dia após dia, tendo duas "irmãs", um "pai"e uma "mãe" indonésios. Um trabalho excepcional que me deu forças pra muito tempo da minha vida, observando como as pessoas são felizes aqui.

Uma coisa que levo da Indonésia é que, mesmo quando eles tem dificuldades financeiras, é difícil você ver um mendigo na rua. Provavelmente, você vai parar teu carro e virá alguém tocando violão pra você, tocando violino, fazendo mágicas. Eles não pedem o dinheiro, mas sim fazem algo para merecê-lo. E pelo que percebi, as pessoas se sentem mais inclinadas a dar dinheiro nesta possibilidade. E complementou o que tinha visto em Bangladesh: as possibilidades de ascenção social se iniciam sobre os esforços dos próprios necessitados, mas sem as oportunidades e o suporte necessário, estas pessoas se tornam reféns de um sistema maligno que ignora-as por mais que se esforcem.

E daí vem na minha opinião o maior aprendizado do meu intercâmbio. Todo mundo precisa de uma oportunidade. Eu tive muitas. Eu pude estudar num colégio particular, eu pude ir pra uma faculdade federal, terminar meu curso, fazer intercâmbios... mas se você não retribui estas oportunidades pra sociedade, você realimenta um sistema em que algumas pessoas nunca receberão oportunidades como esta. É como uma função em matemática: se você ganha mais oportunidades, deve também retribuir de acordo.

No meu intercâmbio, eu descobri os verdadeiros heróis da humanidade. Não aqueles que tem um uniforme com cueca por cima da roupa, que voam e lutam contra monstros gigantes. Mas aqueles que sofrem, erram, choram, tem medo, como nós; mas que a grandeza do que eles atingiram é tão absurda que nós efetivamente nos perguntamos se estas pessoas são somente seres humanos. A dúvida, a possibilidade de cogitar o absurdo, cria um incômodo em nós; eles vão mais longe, mas continuam vivendo as emoções humanas de derrota e problemas como cada um. E este incômodo nos leva a questionar nosso verdadeiro potencial: será que eu não posso ir mais longe? Qual a diferença entre eu e estas pessoas? Como eu faço para chegar mais longe?

E é isso que me moveu aqui. Eu conheci pessoas assim como Yunus e meu chefe, e vi que eles chegaram longe... e talvez eu não estivesse realmente sabendo qual o meu limite.

E aí, veio o segundo processo de eleição. Eu me esforcei como nunca, e vi mais claramente o tamanho do que eu gostaria de fazer, e independente do resultado, eu sabia que havia me esforçado como nunca. E assim o farei daqui pra frente nos próximos desafios... É como se meu coração batesse mais forte agora, revigorado pelos exemplos e ensinamentos que tive de culturas.

Na última parte da minha viagem tive o maior exemplo disto. Fui ao Vietnã no congresso da AIESEC na Ásia Pacífico (APXLDS). Quando você via as pessoas do Afeganistão e do Japão se esforçando pra mudar seus países, pra superar as dificuldades... eu ficava me perguntando de onde eles tiram força, e mais ainda que isso, afirmando pra mim mesmo que não ia tirar o pé do freio pra retribuir isso de jeito nenhum.

Não foi fácil pra estas pessoas, não é fácil pra você, nem pra mim. É tudo uma questão de transformar tuas oportunidades em algo relevante pra quem investiu em você.

Que venham os 2 dias de viagem. Que venha esta nova fase da minha vida. E fica o meu muito obrigado por todo mundo que participou desta experiência, que me deixou extremamente apaixonado por viver.

:)


Um comentário:

  1. Pois é....ta algo que com certeza ninguém tira de você...O Conhecimento...principalmente quando ele se apresenta desta forma...Legal

    Att
    Jean

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